A passagem pelo mundo da edição (numa das chancelas da Leya, a Lua de Papel) mostrou a Ana Pimentel que a vida dos livros no mercado livreiro pode ser curta. Injustamente curta, em muitos casos. Com um fascínio antigo pela leitura, Ana ficou a matutar naquilo e, ao delinear um projeto próprio, com a sua sócia, Sara do Ó, apostou num conceito capaz de dinamizar a leitura depois do momento em que o leitor fecha o volume. Foi assim que nasceu a marca À/Parte, que se apresenta agora ao público no belo, mas exigente, palco que é a Feira do Livro de Lisboa..Sentada no pequeno lounge do seu quiosque, cheio de almofadas e puffs coloridos, Ana conta-nos que este “é um projeto literário concebido em torno de histórias motivacionais, que mostrem ao leitor que a mudança é sempre possível.” Mas a À/Parte não se limitará às histórias contadas em página, quer, a partir delas, construir um universo de experiências, que passe por workshops, sugestões de viagem, receitas gastronómicas relacionadas com os livros, bem como dicas para visitas a exposições ou idas ao cinema. Para isso, cada livro terá um marcador com um QR Code, que dará acesso a todo conjunto de atividades.. Nos planos de Ana Pimentel e Sara do Ó está também a realização de cursos temáticos em torno de livros seus ou de outras editoras. O primeiro será sobre empreendedorismo e a proposta é pôr as pessoas a ler cinco livros, que depois discutirão com especialistas na área. Mas não se pense que as discussões se farão apenas em torno de obras científicas ou de referência. “Também proporemos títulos de ficção, até porque há personagens que são autênticos líderes. Uma boa obra de ficção pode ser tão transformadora como um bom título de Gestão ou de Psicologia, senão mais.” Mas há muito mais previsto, como as consultas de biblioterapia ou os diários de leitura, que são caderninhos, em que o leitor é convidado a dizer que sentimentos lhe despertou este ou aquele livro ou com quem gostaria de partilhar tais impressões. Também estará disponível, no quiosque da editora, um questionário para traçar um perfil do leitor. “Partimos de uma base de dados de 90 obras que fazem sentido em alturas diferentes da vida e as pessoas podem responder as vezes que quiserem”, diz ainda Ana Pimentel.O propósito de todas estas iniciativas será “atrair mais pessoas para a leitura. Apesar dos números estarem a crescer, é preciso fazer muito mais para que o próprio mercado cresça e, assim, possam diminuir os custos de produção do livro, o que diminuirá também o seu preço de capa”. .Edição própria.Para além destas propostas, a À/Parte aposta também na edição própria e o primeiro título estará à venda a partir de 8 de Junho, não no quiosque da Feira do Livro, mas, muito perto, no espaço da Leya, que assegura a sua distribuição. Trata-se de Maravíkia, o novo romance de Carlos Canto Moniz, que já publicou ficção. A escolha desse primeiro título, diz-nos Ana Pimentel, “não foi ocasional. Esta é uma história que, sem dúvida, nos move e inspira porque fala do confronto com a nossa própria mortalidade, com o amor, a amizade ou a lealdade.”Uma das novidades das obras editadas pela nova chancela será a explicitação dos critérios de escolha, “que, na verdade, é uma curadoria.” Estes aparecerão nas badanas e contracapas das obras publicadas, bem como várias perguntas aos leitores, de modo a que estes se sintam diretamente interpelados. Para Ana Pimentel, este é o momento “algo desconcertante, em que dá a sua primeira entrevista como editora”. Na verdade, também ela foi jornalista durante muito tempo. Em 2016 venceu o Prémio de Jornalismo Económico na categoria de Mercados Financeiros; e em 2018 e 2019 foi finalista do Prémio Nacional de Jornalismo de Inovação. Moderou conferências nacionais e internacionais (Web Summit, Comissão Europeia, entre outras), mas, em 2021, largou as histórias de todos os dias pelas de longo curso, que têm lugar nos livros. O que, apesar do design da marca, alegre como um gelado, não deixa de ser uma navegação exigente.=