The Colors Within, um dos títulos fortes da competição.
The Colors Within, um dos títulos fortes da competição.

A MONSTRA faz 25 anos e convida todos para a festa

A partir de amanhã e até dia 30, o grande Festival de Animação de Lisboa está de volta ao Cinema São Jorge com espírito de comemoração. Do estúdio Laika às curtas portuguesas, há muito a descobrir.
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Ao fim de um quarto de século, os dados estatísticos contam: mais de um milhão de espectadores, cerca de 12 500 filmes em três mil sessões e a presença de dois mil criadores, realizadores e animadores (três dezenas deles nomeados para Óscares) fazem da MONSTRA - Festival de Animação de Lisboa um certame orgulhoso da sua história. Há 25 primaveras que é por aqui que passam as principais antestreias, retrospetivas, longas e curtas-metragens nacionais e internacionais de um género muitas vezes confundido com a produção dos grandes estúdios, e poucas vezes conhecido no seu próprio caudal de criatividade. Tem sido essa a missão da MONSTRA: fazer chegar aos olhos dos espectadores, miúdos e graúdos, aquele cinema de animação que não vem à boleia de campanhas de marketing, mas que oferece a melhor leitura possível do que se cria por esse mundo fora. Desta quinta-feira até dia 30, o Cinema São Jorge, entre outras salas (Cinema City Alvalade, Cinemateca...), acolhe uma edição redonda do mais colorido festival lisboeta.

Logo na cerimónia de abertura, amanhã (21h30), haverá uma sessão de curtas, entre as quais se conta uma - O Rapaz que Apagava Beijos - correalizada pela búlgara Radostina Neykova e o diretor artístico, ou pai da MONSTRA, Fernando Galrito. É assim, literalmente desta figura basilar, que nasce a energia da festa espalhada ao longo de semana e meia, onde a animação portuguesa está representada em 20 filmes, um recorde no festival.

De que filmes falamos? Por exemplo, Percebes, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, que integrou a shortlist dos Óscares, “documento” precioso da vida simbiótica de um crustáceo que permite sondar o turismo do Algarve; A Menina dos Olhos Ocupados, de André Carrilho, sobre a magia que se perde por termos a visão presa ao telemóvel (passou na abertura da edição anterior, mas agora está em competição); Pietra, de Cynthia Levitan, maravilhoso conto à volta do poder de um cravo vermelho na relação entre duas vizinhas de um prédio; Amanhã Não Dão Chuva, de Maria Trigo Teixeira, sobre a dor de uma mulher que regressa à sua casa de infância, assistindo à deriva da mãe idosa; e Sequencial, novo título de Bruno Caetano, realizador de O Peculiar Crime do Estranho Sr. Jacinto e produtor de Ice Merchants, que desta feita traz uma história de crescimento.

Áustria, Laika e outras delícias

A cada ano, a MONSTRA faz questão de receber retrospetivas da animação de um país convidado. Nesta edição, a Áustria surge com esse destaque, tratando-se de uma cinematografia voltada para a linguagem experimental e abstrata, aqui reunida em oito programas que vão dos trabalhos pioneiros da vanguarda austríaca às obras mais contemporâneas, as quais, inclusivamente, passaram em edições anteriores do festival.

Já nas homenagens, o estúdio norte-americano Laika é objeto de curiosidade na exposição Frame x Frame, patente no Museu da Marioneta - oportunidade para conhecer a vida dos bastidores de Coraline (2009) e Paranorm (2012), clássicos da companhia, para além das proezas mais recentes, como Kubo e as Duas cordas (2016) e Mr. Link (2019). Na mesma exposição, há ainda um vislumbre exclusivo sobre o último projeto da Laika, a ser produzido neste momento: Wildwood.

Nas longas-metragens, salta à vista o nostálgico The Glassworker/O Vidreiro, do paquistanês Usman Riaz (dia 25, 21h30), belíssimo épico romântico sobre um pai e um filho que trabalham numa oficina de vidro em tempos de guerra - animação a lembrar tanto um delicado globo de neve como os Miyazakis mais adultos - e, em antestreia, a aventura familiar Dália e o Livro Mágico, de David Bisbano (dia 22, 14h30, São Jorge). Na competição principal, vale a pena descobrir A Boat in the Garden/Um Barco no Jardim, de Jean-François Laguionie (dia 26, 21h39, São Jorge), típica obra francesa, entre a memória e a imaginação, cujo traço sereno narra o processo de construção de um barco; e The Colors Within/As Cores Interiores, de Naoko Yamada (dia 24, 21h30, São Jorge), um anime de tons suaves e emoções fortes sobre três jovens estudantes que criam uma banda como forma de expressão musical... das suas cores interiores. Integra ainda a competição Sauvages/Selvagens, o novo filme de Claude Barras, que em 2017 venceu o Grande Prémio da MONSTRA com A Minha Vida de Courgette.

Por fim, uma palavra para outras curtas-metragens a concurso, de entre as quais destaco pérolas como Círculo, da sul-coreana Yumi Joung, um exercício elegante e minimal sobre uma linha circular que atrai pessoas para dentro dela; Morri em Irpin, de Anastasiia Falileieva, relato doloroso e criativo da guerra na Ucrânia, que intercala a técnica do desenho e imagens reais, ou documentais; Homens Bonitos, de Nicolas Keppens, a nebulosa viagem de três irmãos calvos a Istambul para um transplante capilar (nomeado aos Óscares); e Buffet Paraíso, de Héctor Zafra e Santi Amézqueta, um banquete descomunal onde personagens devotas do pecado da gula se entregam a uma experiência de excesso gastronómico... Assim se festejam 25 anos.

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