'A História de Souleymane'. Drama nas ruas de Paris

Ao descobrirmos o filme A História de Souleymane, vale a pena recordar que o seu realizador, o francês Boris Lojkine (nascido em Paris, em 1969), nos surpreendera em 2019 com Camille, um retrato da fotojornalista Camille Lepage, morta durante os conflitos na República Centro-Africana (em 2014, contava 26 anos).Tendo em conta que Souleymane Sangaré, a personagem central do novo filme, provém da Guiné Conacri e tenta encontrar asilo em França, dir-se-á que Lojkine confirma, assim, o seu interesse pelas convulsões do continente africano com ressonâncias diretas no contexto europeu. Assim é, sem dúvida, mas seria precipitado tratar o seu labor narrativo como se fosse uma mera ilustração de uma “temática” suscetível de satisfazer os maniqueísmos de uma qualquer agenda mediática.Em boa verdade, para lá das óbvias diferenças de contexto e ação, os dois filmes distinguem-se pela exploração de um mesmo dispositivo narrativo. Assim, em ambos os casos os acontecimentos apresentam-se filtrados pelo olhar de alguém que tenta desesperadamente compreender o que está a acontecer à sua volta - Camille procurando avaliar quais os sítios certos para garantir a justeza da sua reportagem fotográfica; Souleymane esforçando-se por controlar os mecanismos que podem garantir a sua permanência em França.Com assinalável sobriedade, A História de Souleymane sabe explorar o suspense que decorre da aproximação da data em que o protagonista terá que se apresentar para uma entrevista na instituição estatal de acolhimento de imigrantes. Que dizer? E como dizê-lo? Fará sentido “acrescentar” alguns elementos dramáticos com calculadas conotações políticas?Lojkine filma o seu anti-herói com uma câmara tão precisa quanto ágil, num estilo “quase” documental - as cenas em que Souleymane percorre as ruas de Paris na sua bicicleta, em grande velocidade, distinguem-se pela invulgar energia realista de um olhar atento à diversidade do mundo. Este é também, por isso, um cinema que valoriza a tarefa dos atores, a começar pelo facto de não lhes ser pedido que “simbolizem” uma qualquer abstração comportamental.Abou Sangaré é notável na composição de Souleymane, tendo ganho o prémio de melhor ator da secção “Un Certain Regard” de Cannes/2024, num palmarés em que o filme foi também distinguido com o prémio do júri. Na cena decisiva da entrevista na OFPRA (organismo francês para o acolhimento de “refugiados e apátridas”), reencontramos a brilhante Nina Meurisse que já tínhamos visto no papel central de Camille. Em resumo, Lojkine não é um cineasta de generalidades ou generalizações fáceis, antes um observador apaixonado das singularidades de cada ser humano e, nessa medida, do seu lugar na história coletiva. .Robbie Williams. Ser ou não ser um chimpanzé .'Pequenas Coisas como Estas'. Um drama irlandês

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