1999-2024: um quarto de século de recordações e pronto para o futuro
Curiosamente, a rica herança cultural deixada pelos portugueses ainda é valorizada e protegida em Macau, especialmente as tradições e a cultura dos lusodescendentes, que se tornaram uma parte importante da diversidade cultural de Macau. Graças a estes profundos laços históricos e culturais, Macau tornou-se uma ponte ímpar entre a China e o mundo lusófono.
Acompanhei a transmissão televisiva da Cerimónia de Transferência em direto no dia 20 de dezembro de 1999, quando Macau passou a ser Região Administrativa Especial da República Popular da China. Encontrava-me em Portugal para finalizar o curso de licenciatura quando esse momento histórico foi transmitido em todo o mundo. Após alguns anos, regressei a Macau, terra onde nasci durante a Administração portuguesa.
Cresci numa Macau muito calma e os últimos dez anos antes de 1999 foram um período de muitas mudanças: a construção da Ponte da Amizade, do Aeroporto Internacional de Macau, da Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE), dos Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE), de redes rodoviárias nunca antes vistas, de viadutos, das estátuas de Kun Iam no NAPE e da Deusa A-Má em Coloane, do Centro Cultural de Macau e do pavilhão provisório construído para a noite da Cerimónia de Transferência.
Em 2006, ano do meu regresso, assisti à liberalização da indústria do jogo em Macau, quando novas concessionárias e os seus luxuosos resorts se instalaram em Macau, e uma nova zona passaria a ter um impacto evidente no destino das ilhas de Taipa e Coloane: a zona do Cotai, onde grandes casinos e hotéis são hoje uma realidade no nosso quotidiano.
Macau passou a ser um Centro Mundial de Turismo e Lazer e o seu património rico é visitado e fotografado diariamente por multidões de turistas, incluindo monumentos seculares como as Ruínas de São Paulo, o Farol da Guia, o Templo de A-Má, o Teatro Dom Pedro V e o edifício do Leal Senado, classificados como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO desde 2005.
Foram, afinal, mais de 400 anos de presença portuguesa em Macau, que deixaram um património cultural rico no mundo, e também de comunidades estabelecidas em Macau, mais propriamente a portuguesa e a macaense.
Macau ficou também com o estatuto de plataforma comercial entre a China e os países de língua portuguesa e, mais recentemente, uma das regiões integradas na Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau.
Além deste desenvolvimento, e se Macau foi desde o início um entreposto comercial para o mundo, hoje tem um papel ainda mais relevante, enquanto segundo sistema da República Popular da China. Macau ficou conhecida com uma marca distinta do Oriente e do Ocidente, uma cidade aberta ao mundo, onde a Lei Básica lhe dá um estatuto próprio e autónomo, e o chinês e português se conjugam diariamente enquanto línguas oficiais.
Para além da sua economia aberta, possui um legado cultural singular onde as festividades não são somente as chinesas tradicionais, mas também reúnem características ocidentais, mais propriamente as portuguesas, e onde se inclui a mais especial - a macaense. Este fator identitário tornou Macau única e especial, algo que se manifesta na língua, religião, gastronomia, artes e música das suas comunidades, lado a lado com os monumentos tangíveis.
Macau, para se tornar diferente, apostou em valores culturais próprios para o seu desenvolvimento económico, valorizando e mantendo o contínuo apoio ao trabalho da sociedade civil e das associações culturais criadas para estes efeitos, incluindo as de matriz portuguesa e macaense.
Esta sociedade civil, que reúne comunidades e pessoas de diferentes rostos e etnias, é a verdadeira base da continuidade dum segundo sistema saudável - um sistema que reúne os valores de diferentes gerações e que considera importante o entendimento das culturas, nomeadamente quando este conta com uma História de 500 anos.
Compreender Macau e promover a sua marca entre quem não é de cá implica criar condições favoráveis que permitam às novas gerações compreender o seu passado e o seu legado e, a partir daqui, levar Macau para novos patamares, onde o desenvolvimento económico pode e deve incluir valores e características culturais únicas.
Exemplos como o Festival da Lusofonia, o Grande Prémio de Macau, o Arraial de São João, o mês de Portugal em Macau e os Encontros das Comunidades Macaenses são alguns eventos anuais que projetam Macau no exterior e convidam a curiosidade dos turistas, e onde a participação de comunidades residentes e estrangeiras se congregam.
O desafio do futuro passa por haver uma melhor promoção de Macau internacionalmente e também na Área da Grande Baía, para este efeito recorrendo à sociedade civil, que tem extensas ligações com os países lusófonos e as representações macaenses no mundo, transmitindo os desenvolvimentos e os sucessos de Macau no exterior, sem esquecer a utilidade da plataforma que existe entre a China e os países de língua portuguesa em vários setores, muitas vezes não só empresariais, mas também culturais, académicos, editoriais, entre outras vertentes.
O meu desejo é que Macau continue a ser uma cidade aberta ao mundo, e o seu passado continuar a abraçar o presente e também o futuro.
Aqui ficam os meus parabéns pelo 25.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau!
TEXTO António Monteiro
Presidente da Associação dos Jovens Macaenses
INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS