Cirurgia Oncológica: os desafios do acesso e tempos de espera

Cirurgia Oncológica: os desafios do acesso e tempos de espera

Todos os anos, mais de 3 mil mulheres em Portugal enfrentam o diagnóstico de cancro ginecológico, sendo o cancro do endométrio o mais comum. A deteção precoce e o acesso oportuno à cirurgia são cruciais, mas barreiras e tempos de espera no SNS continuam a dificultar os resultados e a qualidade de vida das pacientes.
Publicado a
Atualizado a

O cancro ginecológico é uma realidade crescente em Portugal, com cerca de 3.009 novos casos diagnosticados anualmente. Destes, o cancro do endométrio,o tecido que reveste o interior do útero, destaca-se como o mais frequente. Além da importância de diagnosticar a doença precocemente, é também fundamental garantir que as intervenções cirúrgicas ocorram no tempo certo, de modo a maximizar os resultados e melhorar os prognósticos.

Entre outras dificuldades que urgem ser mitigadas, dá-se como exemplo a acessibilidade ao local correto do tratamento ou a definição de uma rede especializada para cada tipo de cancro ginecológico, seja do endométrio, do ovário ou do colo do útero. Por outro lado, é imprescindível investir na formação contínua de técnicos e cirurgiões, nomeadamente na adoção de novas tecnologias avançadas, como a cirurgia robótica, que pode melhorar substancialmente os resultados clínicos.

Tempos de espera: onde estamos?

No SNS, os tempos de espera para cirurgia variam consoante a prioridade atribuída ao caso. Doentes classificadas como urgências diferidas podem ser operadas em três dias, enquanto os casos de nível 2 ou nível prioritário, como acontece com as doenças oncológicas, têm um prazo máximo de 45 dias úteis. No Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da ULS Viseu Dão-Lafões, o tempo médio de espera em 2023 foi de 26 dias. Embora este número esteja abaixo da média nacional, o ideal é realizar a cirurgia precocemente, antes da doença se disseminar, melhorando o prognóstico do cancro do endométrio, o tumor mais frequente
em Portugal.

As disparidades regionais são notórias. Em grandes cidades como Lisboa e Porto, os desafios incluem maior densidade populacional e pressão sobre os serviços de saúde. Já em regiões do interior, como Viseu, os tempos de espera tendem a ser mais reduzidos, mas a meta deve ser garantir equidade no acesso ao tratamento em todo o país.

O ideal é realizar a cirurgia precocemente, antes da doença se disseminar, melhorando o prognóstico do cancro do endométrio, o tumor mais frequente em Portugal.

Prevenção: a primeira linha de defesa

A prevenção é fundamental na luta contra o cancro ginecológico, especialmente no caso do cancro do endométrio, que tem uma ligação direta à obesidade. Promover estilos de vida saudáveis, incluindo uma dieta equilibrada e exercício físico regular, é essencial para reduzir o risco de desenvolver este tipo de tumor. Muitas pacientes poderiam evitar a necessidade de tratamento apenas adotando hábitos de vida mais saudáveis.

Além disso, o combate à obesidade contribui para a saúde geral, representando um dos maiores aliados na prevenção primária deste tipo de cancro. Prevenir não só reduz os riscos associados à doença, mas também melhora significativamente a qualidade de vida.

O futuro exige estratégias integradas

O aumento previsto nos casos de cancro ginecológico coloca desafios adicionais ao SNS. É necessário adotar estratégias integradas que combinem prevenção, diagnóstico precoce e avanços tecnológicos. Redes especializadas, como as que já existem para outras doenças, e formação contínua de profissionais são indispensáveis para enfrentar este cenário.

Créditos: Nuno Nogueira Martins – Diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da ULS Viseu Dão-Lafões.

O autor deste artigo não recebe qualquer honorário pela colaboração nesta iniciativa, apoiada pela GSK. Os artigos fazem parte do projeto Ciência e Inovação e são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt