Algarve multicultural exige maiores desafios para controlar hipertensão

Algarve multicultural exige maiores desafios para controlar hipertensão

Considerando as características da população, - turismo flutuante, vasta comunidade estrangeira residente e muitos imigrantes sazonais, - os médicos consideram ter menos possibilidades e recursos para garantir o diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial.
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Quanto maior a pressão arterial, maior o risco de sofrer um acidente vascular cerebral. A hipertensão é também um dos principais fatores de risco para a insuficiência cardíaca e, por essa razão, são tão importantes as medições regulares da tensão e o tratamento rigoroso da doença que afeta cerca de 42% da população em Portugal.

Para chamar a atenção para estas questões e para as particularidades da região, a Sociedade Portuguesa de Hipertensão e a Servier Portugal realizaram em Faro, no último sábado, a derradeira ação de rastreio gratuito da campanha “Pela Saúde de Portugal”.  A iniciativa teve oportunidade de contactar com os diferentes segmentos da população e coincidiu também com a famosa concentração motard que todos os anos leva à capital algarvia milhares de motociclistas.

 “Vivemos numa região onde a população imigrante é cada vez maior. Temos, cada vez mais, pessoas estrangeiras a residir cá e ações de rastreio como esta servem, também, para chegar a essas pessoas, dentro das suas diferenças culturais e de língua”, esclareceu Inês Pinto em declarações à TSF e DN, parceiros desta iniciativa.  A médica coordenadora adjunta do Núcleo de Internos da Sociedade Portuguesa de Hipertensão referiu que em vários contactos com médicos e enfermeiros o inglês foi o idioma predominante.

Entre as 9h e as 17 horas, período em que a carrinha que serve de apoio à campanha esteve estacionada na Praça da Liberdade, foram realizados 68 rastreios à tensão arterial e aos níveis de colesterol dos participantes. “As pessoas devem aproveitar sempre estas ocasiões porque além de não terem qualquer custo vigiam a pressão arterial e ficam a saber como estão os valores de lípidos, ou seja, das gorduras, como o colesterol e os triglicerídeos”.

A iniciativa “Pela Saúde de Portugal” realizou rastreios gratuitos aos valores da pressão arterial e de lípidos no sangue. Os dados recolhidos permitiram despistar casos de risco mais elevado encaminhando-os para os serviços de saúde e promoveram hábitos de vida mais saudável junto da população.

“Problemas de tensão arterial não tiram férias”

No rastreio de Faro, os diversos profissionais de saúde voluntários tiveram também oportunidade de alertar a população, e sobretudo os doentes que tomam medicação regular, para a necessidade de não a descontinuar no período das férias. “Quem vem para esta zona, ou para qualquer outro ponto, deve continuar a tomar a medicação que lhe foi receitada para a tensão arterial ou para o colesterol”.  Não pode haver férias para os medicamentos porque os problemas de tensão também não tiram férias, avisa Inês Pinto.

Com muitos motards a circular na cidade, alguns ficaram curiosos com as movimentações na Praça da Liberdade, no centro de Faro, e também se juntaram aos que participaram no rastreio, iniciativa aplaudida por Carlos Baía, vereador da autarquia local, responsável pelo pelouro da Saúde. “Agradecemos a disponibilidade da Sociedade Portuguesa de Hipertensão para estar aqui. Ações como esta fornecem à Camara Municipal dados que permitem que avancemos com iniciativas como a nossa Carta Municipal de Saúde que nos vai identificar, de forma clara, quais são os principais problemas de saúde no concelho e para podermos trabalhar de forma incisiva na resolução dos mesmos”.

Balanço positivo e orgulho no trabalho desenvolvido

O rastreio, em Faro, marcou o fim da campanha “Pela Saúde de Portugal”, após oito paragens em outras tantas capitais de distrito. A iniciativa começou no Porto, em dezembro do ano passado, e passou por Vila Real, Guarda, Coimbra, Santarém, Lisboa e Évora, antes de chegar à capital algarvia. Fernando Martos Gonçalves, presidente-eleito da Sociedade Portuguesa de Hipertensão para o próximo mandato, avaliou estes oito meses de trabalho: “O balanço é positivo. Estamos contentes. O trabalho de todos os voluntários é, de facto, meritório. Em nome de uma grande organização que teve desde auxiliares, a médicos e enfermeiros, etc., estou muito satisfeito”.

A campanha de rastreios gratuitos da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) e da farmacêutica Servier Portugal esteve englobado na Missão 70-26 que tem como objetivo controlar 70% dos hipertensos até 2026. A sociedade científica acredita que tendo a doença controlada será possível diminuir a taxa de mortalidade devido a AVC, mas também muitas sequelas e incapacidades que ficam após os acidentes que limitam muito a vida dos pacientes.

Rosa de Pinho, a atual presidente da SPH, tem referido ao longo do ano que o desconhecimento sobre a hipertensão não dá à doença o foco e importância que devia ter na sociedade portuguesa. “Muitos de nós não sabemos que somos hipertensos e, por outro lado, desconhecendo não damos o devido valor à doença e não a vigiamos. Ter atualmente apenas metade dos doentes controlados é um valor muito baixo e, por isso, queremos atingir a meta dos 70% em 2026”, afirma, confiante, a médica.

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