A explosão da Inteligência Artificial está a alavancar a construção de gigantescos centros de dados.
A explosão da Inteligência Artificial está a alavancar a construção de gigantescos centros de dados. D.R.

Inteligência artificial já é usada como medicina mas também pode prejudicar o cérebro. Saiba como

O investigador John Krakauer da Fundação Champalimaud alertou que a IA mal utilizada pode prejudicar a memória e o pensamento crítico.
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O investigador John Krakauer da Fundação Champalimaud defendeu esta quarta-feira,16 de julho, que a utilização de inteligência artificial como medicina já é uma realidade, mas alertou que mal utilizada pode prejudicar a memória e o pensamento crítico.

“Não venho falar-vos de inteligência artificial na medicina, venho falar-vos de inteligência artificial como medicina. (…) Não é ficção científica, é real”, disse o cientista na conferência Medica AI, que decorre hoje na Fundação Champalimaud, em Lisboa.

Na sua intervenção na segunda edição desta conferência, que reúne investigadores, médicos e cientistas de todo o mundo para explorar como a inteligência artificial (IA) está a revolucionar a medicina, Krakauer referiu-se em concreto à utilização da tecnologia na neurotecnologia comportamental.

Lembrou também projetos que estão a utilizar a implantação de elétrodos no cérebro e na coluna vertebral para contornar lesões cerebrais ou na espinal medula, conjugados com jogos interativos produzidos com IA que permitem exercitar e reaprender a mobilidade (exergaming, mistura de jogo e exercício).

Falou também de um caso em que a IA generativa é utilizada em pacientes com perturbação obsessivo-compulsiva para simular as situações causadoras de stress para o paciente, de forma a dessensibilizá-lo e ajudá-lo a superar a doença.

“A IA é medicina por si só”, afirmou.

No entanto, questionado se a crescente utilização da IA pode também conter em si o risco de tornar o cérebro mais preguiçoso, Krakkauer admitiu que há esse perigo se “externalizarmos o cérebro com a IA”.

“Há evidências crescentes de que se passa alguma coisa com a cognição humana”, admitiu, exemplificando que há estudos que indicam que o quociente de inteligência (QI) está a cair.

Embora escassa, a evidência existe, alertou, e afeta áreas diversas da capacidade cognitiva, como a memória: se sabemos onde encontrar a informação facilmente, não precisamos de treinar o cérebro para reter a informação.

Outra área em que “há definitivamente um declínio” é a capacidade de pensamento crítico e as pessoas aceitam as respostas da IA generativa sem questionar, como se se tratasse de verdades absolutas.

A capacidade de orientação está também em risco devido à sobredependência dos sistemas de navegação, como o GPS, que dispensa a memorização de trajetos.

Apesar dos perigos, o cientista disse acreditar que as perdas que já se verificam não são irreversíveis e afirmou que a própria tecnologia pode ajudar a reverter os danos e prevenir o declínio cognitivo, com programas educativos como os que já se usam para prevenir o envelhecimento cerebral.

“Uma forma de contrariar [a perda cognitiva] é usar os jogos interativos (exergaming) em salas imersivas para estimular o cérebro”, exemplificou, sugerindo que poderá até vir a ser um programa para se fazer em família: “Em vez de irem almoçar fora, as famílias podem ir experimentar uma destas salas imersivas e estimular o cérebro. Sabemos que funciona para prevenir o envelhecimento cerebral”.

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