Um estudo liderado pela Universidade de Coimbra e pela Universidade Roskilde, na Dinarmarca, vem agora provar que a cicatrização quase total das feridas provocadas pela Diabetes será possível a partir de uma abordagem molecular (através da inibição de pequenas moléculas) que irá inibir, em simultâneo, dois microARN (microRNA, na sigla em inglês). De acordo com um comunicado divulgado esta terça-feira, dia 14, a universidade portuguesa considera que esta descoberta pode tornar-se num novo “método pode abrir caminho ao desenvolvimento de novas terapias para melhorar o tratamento de feridas em pessoas diagnosticadas com diabetes”.É sabido que a cicatrização de feridas em pessoas com Diabetes “é lenta e complexa, o que favorece o aparecimento de úlceras difíceis de curar”, refere a mesma nota, mas o estudo levado a cabo por cientistas das duas universidades vem mostrar que esta cicatrização é possível quase na totalidade e ao fim de 10 dias.Como explicam os investigadores do grupo Obesidade, Diabetes e Complicações do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB), Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho.cientistas, o objetivo do estudo era investigar o bloqueamento de “dois microARN – o miR-146a-5p e o miR-29a-3p, que são pequenas moléculas que regulam a expressão genética e que descobrimos estarem aumentadas na pele de pessoas com diabetes – e se tal poderia melhorar a cicatrização destas feridas”..Diabetes em Portugal: Especialistas alertam para a falta de dados precisos e políticas eficazes. E os resultados obtidos, que já foram publicados na revista científica Diabetologia, mostraram que sim, abrindo “novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias inovadoras que atuem diretamente sobre o miR-146a-5p e o miR-29a-3p, com potencial para modular processos-chave envolvidos na cicatrização de feridas, como a inflamação, o stress oxidativo, a formação de novos vasos sanguíneos e a remodelação da matriz extracelular”.Os investigadores explicam ainda que para alcançar estes resultados, foi testado o efeito da inibição dos microARN através de moléculas desenhadas para o efeito em células humanas e em ratinhos com diabetes tipo 1. Depois, foram analisadas as consequências ao nível da inflamação, formação de novos vasos sanguíneos e remodelação tecidular. Mas, nos testes com ratinhos, os investigadores verificaram que “a abordagem terapêutica reduziu o tamanho das feridas de forma significativa em dez dias, com alterações que levaram a uma pele mais resistente e estruturalmente mais organizada”.Segundo avançam os cientistas de Coimbra, “ao identificar os dois microARN como alvos terapêuticos promissores, este trabalho cria bases para futuras abordagens personalizadas e mais eficazes no tratamento de feridas crónicas, especialmente em pessoas com diabetes”, sublinhando ainda “estes futuros alvos de terapia molecular podem ter o potencial de melhorar significativamente as feridas e a recuperação de doentes, podendo reduzir o tempo de internamento hospitalar, diminuir o risco de amputações e, assim, aliviar o peso económico e social associado”.Este método, consideram os mesmos, pode ainda “potenciar estratégias semelhantes aplicadas a outras patologias marcadas por cicatrização deficiente ou inflamação crónica”.Na nota divulgada pela Universidade de Coimbra, Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho destacam também que “este estudo tem grande relevância social, especialmente num contexto global em que a diabetes é uma doença que afeta milhões de pessoas – causando dor, infeções recorrentes, hospitalizações frequentes e até amputações – e apresenta uma tendência de crescimento contínuo”.O estudo foi apoiado por várias entidades europeias e além da Universidade de Roskilde, contou com participação de cientistas de outras instituições dinamarquesas, como da Universidade da Dinamarca do Sul e da Universidade de Aalborg.