Há muito que os historiadores duvidavam da alegada origem genovesa de Cristóvão Colombo, que, de Itália, teria rumado à Península Ibérica para apresentar os seus projetos de navegação a D. João II de Portugal, primeiro, e depois aos Reis Católicos. Mas se não era italiano, qual seria a verdadeira origem do navegador? E por que razão ele próprio envolveu o seu passado num manto de mistério?.O tema voltou a estar sob os holofotes (desta feita, da televisão) este sábado, dia da hispanidade que celebra a chegada da frota de Colombo à América, a 12 de Outubro de 1492, com a transmissão, pelaTVE1, de um documentário intitulado Colón ADN, su verdadero origen. A longa-metragem documenta os 22 anos de investigação liderada pelo catedrático em Medicina Forense da Universidade de Granada, José Antonio Lorente. Depois de examinar centenas de ossadas humanas e de documentos relativos às oito principais teorias sobre o tema, a equipa chegou, finalmente, à sua conclusão: o ADN dos ossos, que se confirmou serem do navegador, indicarão que nasceu no Mediterrâneo ocidental e que seria judeu..Mas ao longo destes 22 anos, como também se mostra no filme, houve muitas pausas, dúvidas, interrupções. Primeiro houve que ter a certeza se os restos mortais sepultados no túmulo da Catedral de Sevilha pertenciam mesmo a Colombo, o que só foi possível depois de exumadas e analisadas as ossadas do filho mais novo, Hernando. Depois houve que analisar mais de 25 teorias existentes e seleccionar as oito mais prováveis, entre as quais duas portuguesas..Na base de todas as dúvidas estava a perplexidade ante o facto de um filho de modestos artesãos genoveses ter tido acesso direto ao Rei de Portugal e aos Reis Católicos, a quem solicitou o comando da Armada e o cargo de governador-geral, o que só era concedido a pessoas da família real ou especialmente favorecidas por ela. Para além disso, um dos homens que melhor conheceu Colombo, o dominicano Bartolomé de las Casas, sempre negou que este fosse de origem italiana..A equipa da Universidade de Granada fez pesquisas aturadas em Portugal e Espanha. Entre outras teses, procurou saber se Colombo era membro de uma das principais famílias nobres de Castela (os Mendonza), se era filho bastardo do Príncipe de Viana (o que o tornaria sobrinho de Fernando de Aragão), um nobre galego ou se ocultava o seu nascimento por ser membro de um grupo étnico perseguido em Navarra e no País Basco, no final da Idade Média: os agoutes..As duas teorias portuguesas foram representadas no documentário pelos seus defensores: Fernando Branco, professor do Instituto Superior Técnico e autor de vários trabalhos sobre o tema, e José Mattos Silva, co-autor, com o seu irmão António, de vários trabalhos sobre figuras dos Descobrimentos portugueses. Para o primeiro, Cristóvão Colombo não passaria do nome escolhido para ocultar a identidade de um corsário de origem portuguesa, que, na verdade, se chamaria Pedro de Ataíde. Para o segundo, estaríamos diante de um rapaz alentejano, fruto dos amores extraconjugais da princesa Leonor de Avis com um religioso chamado Amadeu da Silva. A investigação desta teoria trouxe a equipa forense ao Alentejo e incluiu a análise dos cabelos de Inês de Castro, bisavó de Leonor. Mas não houve match..No entanto, uma das poucas certezas que há sobre a biografia do Almirante é o facto de ele ter passado longos períodos em Portugal e de ter casado na ilha do Porto Santo com Filipa Perestrelo, com quem teve o seu filho mais velho. Como é sabido também foi a D. João II que ele terá apresentado pela primeira vez o seu projeto de chegar ao continente asiático navegando para Ocidente..Segundo a equipa dirigida por Lorente, os estudos de ADN revelariam, afinal, que Colombo era judeu, natural da zona mais ocidental do Mediterrâneo. Ora, por volta de 1460, esta etnia já era perseguida em Génova, mas ainda vivia com tranquilidade na Península Ibérica, nomeadamente na sua costa mediterrânica. De resto, estes dados são complementados pelos historiadores, que nos dizem que a expedição de Colombo foi financiada e apoiada por alguns dos mais poderosos judeus conversos existentes na corte dos Reis Católicos. O secretismo em que ele próprio se envolveu seria justificado pelo ambiente cada vez mais hostil que estes começavam a enfrentar também por estas paragens. Recorde-se que 1492, o ano do seu triunfo, foi também aquele em que os judeus foram expulsos de Espanha..Esta História está longe, no entanto, de ter chegado ao seu capítulo final. Já vários cientistas e historiadores vieram a público pôr em causa as conclusões apresentadas pelos investigadores da Universidade de Granada.