Começaram por alcançar os 50 metros de altitude. Sete anos volvidos, em 2024, os rockets desenvolvidos pela Rocket Experiment Division (RED) um projeto académico do Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, ultrapassam a velocidade do som e alcançam os 6500 metros. A equipa constituída por elementos do Núcleo de Estudantes de Engenharia Aeroespacial do Técnico (AeroTéc), leva acima das nuvens rockets com nomes que evocam a cultura nacional: Camões, Baltasar, Blimunda e, em breve Amália. Os rockets do RED já levaram Portugal ao título de vice-campeão europeu na competição European Rocketry Challenge. Desde 2017, ano da criação deste projeto com o objetivo de proporcionar aos alunos uma experiência prática no campo da engenharia aeroespacial, dez rockets com engenho luso subiram aos céus. Gonçalo Machado, coordenador do projeto RED, dá-nos uma definição sucinta do que é um rocket: “um veículo movido a propulsão, geralmente utilizado para levar cargas, como satélites ou instrumentos científicos, para o espaço”. Gonçalo também derruba preconceitos: “o que passa para a população é que qualquer atividade com rockets ou veículos inovadores aéreos está associada à guerra, algo que não é verdade. Há muito trabalho educacional do setor associado a investigação que visa melhorar as condições de vida no planeta, bem como o mercado português”. Na prática, o RED constrói rockets de pequeno porte, “com o objetivo de integrarem missões científicas e educacionais”, como nos explica o também presidente do Núcleo de Estudantes de Engenharia Aeroespacial do Técnico, para acrescentar que “podem ser destinados a realizar experiências atmosféricas, testar novos sistemas de propulsão ou outros componentes de tecnologia espacial. O objetivo principal é dotar os estudantes de experiência prática em engenharia aeroespacial”. Acresce que a equipa do RED realiza workshops em escolas de ensino básico e secundário por todo o país.Até 2020, a Missão Aurora, dotada de rockets de um metro de comprimento, levou o RED a voar até aos 1500 metros de altitude. “Chegado o ano de 2021, decidimos colocar Portugal numa competição europeia de lançamento de rockets, a European Rocketry Challenge (EuRoC), destinada a equipas universitárias. A Agência Espacial Portuguesa criou a competição em 2020 e, desde então, tem reunido equipas de vários países europeus no Alentejo, contando com o apoio do exército português e dos municípios de Ponte de Sor e de Constância”. Em concreto, “a competição avalia diversas componentes, do design do rocket, à qualidade do relatório técnico e à prestação de cada fase do voo”, detalha Gonçalo, e acrescenta: “existem várias categorias a considerar, como a altitude e tipo de propulsão. O RED tem participado na categoria de altitude até 3000 metros e propulsão sólida”..Blimunda, em homenagem à protagonista do livro Memorial do Convento, de José Saramago, foi o primeiro rocket que a equipa lançou no contexto da referida competição. Seguiu-se-lhe, em 2022, Baltasar (também protagonista no já referido livro), um rocket com design melhorado e “o primeiro projetado por uma equipa universitária portuguesa a ser lançado e recuperado com êxito”, enfatiza o coordenador do RED. Em 2023, o RED participou de novo na competição internacional com o rocket Camões. “Trouxemos para casa o troféu de Payload Award, isto é, fomos a equipa com melhor experiência científica transportada no rocket”. Ainda em 2024, o RED participou na competição europeia com o também premiado rocket Adamastor. O rocket que irá participar na competição em 2025 levará aos céus o nome de Amália.Até 2024, o RED contava já com um total de sete lançamentos. Nesse ano, “mudou o paradigma e deixámos de ser apenas uma equipa de competição. Realizámos mais sete lançamentos e decidimos apostar no desenvolvimento de tecnologias paralelas, bem como no desenvolvimento de diferentes rockets para diversos propósitos académicos. A Missão Ínclita Geração consistiu no desenvolvimento de rockets mais para o transporte de pequenos satélites até aos mil metros de altitude e ejetá-los no seu apogeu”. Deram-se lançamentos em Troia, depois em Espanha. “Seguimos com a Missão Gama, desenvolvida com o nosso patrocinador principal Atlantic Spaceport Consortium, com a construção, pela primeira vez em Portugal, de dois rockets supersónicos visando os primeiros voos do futuro Porto Espacial de Santa Maria”.Para o futuro, Gonçalo Machado traça como objetivo “continuar a trabalhar com as empresas do setor e instituições portuguesas para apoiar e capacitar os alunos de competências essenciais para o mercado de trabalho. Temos no projeto os futuros engenheiros aeroespaciais do país. No que concerne a material, estamos sempre dependentes de apoio de empresas devido ao estatuto de associação juvenil. É notável a dificuldade de encontrar empresas que estejam abertas a patrocinar projetos académicos. O RED é uma das equipas europeias com menor capacidade financeira para o desenvolvimento dos seus protótipos. No entanto, apesar do pouco que temos, conseguimos fazer história e levar Portugal ao pódio europeu”.