Do laboratório para o futuro: Inteligência Artificial pela Sustentabilidade em Saúde

Do laboratório para o futuro: Inteligência Artificial pela Sustentabilidade em Saúde

O “Prémio Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade” vai distinguir soluções inovadoras que promovem a sustentabilidade na Saúde, no próximo dia 26 de novembro. Este ano com uma cerimónia dedicada ao tema “Inteligência Artificial aplicada à Saúde”, o galardão resulta de uma aliança entre indústria farmacêutica, academia, ciência e tecnologia. Maria de Belém Roseira e João Eurico da Fonseca explicam a importância da iniciativa.
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Estimular a sustentabilidade na área da saúde, fomentar a inovação em saúde sustentável, promover a introdução da inovação na investigação e na prática clínica, reforçar a aproximação à academia e divulgar boas práticas. Eis o objetivo do “Prémio Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”, uma iniciativa promovida pela Sanofi, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e pela NTT DATA.

Para Maria de Belém Roseira, presidente do júri do Prémio, a “dificuldade em juntar recursos convergentes” é um “grande problema”, especificamente na Saúde, em que “o avanço do conhecimento se traduz em oportunidades para evitar ou vencer a doença”. Salienta, por isso, a importância da “colaboração entre os vários agentes” em prol da melhoria de vida das pessoas. Para garantir a inclusão e o acesso da inovação em saúde a todos os cidadãos, a antiga ministra da Saúde defende a necessidade de “trabalhar de uma maneira mais inteligente e mais orientada para as finalidades a atingir”, não podendo “faltar a reflexão estratégica, a definição de prioridades, a co-construção dos objetivos e as metodologias” para alcançar os objetivos identificados.

No “Prémio Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”, a aliança entre indústria farmacêutica, academia, ciência e tecnologia permite que “as ideias sejam, ao mesmo tempo, cientificamente sólidas, tecnicamente exequíveis e relevantes para o sistema de saúde”, assinala João Eurico da Fonseca, presidente executivo do júri deste prémio e diretor da FMUL.

A academia tem um papel transformador nesta iniciativa “ao criar conhecimento independente, formar profissionais e garantir a avaliação da inovação com uma metodologia robusta”, sublinha o diretor da FMUL, uma instituição que pretende “ser uma ponte entre o laboratório, a indústria e o doente”. Isto porque, as escolas médicas podem “acelerar a inovação criando ecossistemas onde estudantes, profissionais de saúde, investigadores e parceiros externos trabalham juntos desde o primeiro dia num projeto”. O responsável dá como exemplo a união entre o Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML) a FMUL, a ULS de Santa Maria, a Escola Superior de Enfermagem e o Gulbenkian Institute for Molecular Medicine. “Juntos procuramos que as soluções respondem a necessidades reais e chegam efetivamente aos doentes”.

Premiados conhecidos no dia 26 de novembro

Na 2.ª edição do prémio serão distinguidos projetos em quatro categorias – Sustentabilidade Social, Sustentabilidade Económica, Sustentabilidade Ambiental e Sustentabilidade na Transformação Digital – e os premiados serão conhecidos numa cerimónia, que está agendada para o próximo dia 26 de novembro, de manhã, no Auditório João Lobo Antunes da FMUL.

A sustentabilidade na sua tripla dimensão social, económica e ambiental é a imagem de marca deste prémio, segundo Maria de Belém Roseira. “Os projetos devem poder ser operacionalizáveis e replicáveis, caso contrário serão meros exercícios intelectuais”, sustenta a presidente do júri, assegurando que os projetos submetidos são avaliados e selecionados consoante o “contributo que podem dar para um sistema de saúde com maior disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade e qualidade”.

Para João Eurico da Fonseca, as quatro categorias “refletem a convicção de que a inovação em saúde só é sustentável se for socialmente justa, economicamente responsável, ambientalmente consciente e digitalmente habilitada”. Até porque, os critérios do prémio contemplam “soluções integradas, com impacto mensurável e potencial de escalabilidade no Serviço Nacional da Saúde (SNS)”, diz o docente, com a expectativa de que os candidatos sejam orientados para “olharem para o doente, para o sistema e para o planeta como um todo, numa perspetiva de Saúde Global”.

João Eurico da Fonseca
João Eurico da Fonseca

Na edição de 2025 foi introduzida uma categoria para estudantes. É um “convite à irreverência”, frisa o diretor da FMUL, que espera “ideias simples, digitais, interdisciplinares e muito próximas da experiência real”, porque a atual geração de estudantes “pensa diferente”. E especifica: “Completamente embebidos num mundo digital, é-lhes intuitivo incorporar a inovação para objetivos de usabilidade pragmática. Com mentoria adequada, projetos piloto e integração em equipas clínicas, essas ideias podem ser testadas, adaptadas e incorporadas nos serviços de saúde”.

Muitas vezes, a inovação que nasce no meio académico não chega ao doente, devido a barreiras como a “distância entre academia e os decisores que poderão implementar a inovação, dificuldades de validação em contexto real, dificuldades regulatórias, resistência organizacional à mudança e subfinanciamento da área de investigação e inovação”, aponta João Eurico da Fonseca, crente que este prémio possa ajudar a população a ter acesso à inovação, “ao dar visibilidade, credibilidade e apoio estruturado a projetos com maturidade para avançar”.

E, para que uma solução inovadora impacte no sistema de saúde e na vida das pessoas, é essencial “começar sempre por um problema clínico concreto que deve ser validado com quem está no terreno e com os doentes”, aconselha o académico apologista da criação de “soluções simples, escaláveis, com benefícios mensuráveis e um modelo claro de implementação prática na Saúde, não apenas uma boa tecnologia”.   

De acordo com Maria de Belém Roseira, “só através do aprofundamento do conhecimento que inova e transforma conseguiremos avançar de forma sustentada, alcançando níveis de saúde cada vez mais elevados, mas, também, cada vez mais respeitadores dos princípios que presidem a esta atividade, de entre os quais a sustentabilidade ambiental”.

Por este motivo e por acreditar que a promoção da vida humana e da saúde é uma obrigação de cidadania, a presidente do júri sustenta que “premiar quem se distingue nos domínios abrangidos pelo Prémio é também um dever, pois contribui para o sucesso coletivo”, tendo um “efeito pedagógico importante que não deve ser desperdiçado, para além do exercício de reconhecimento que constitui”.

Maria de Belém Roseira
Maria de Belém Roseira

Inteligência Artificial aplicada à Saúde

Inteligência Artificial (IA) aplicada à Saúde é o tema da 2.ª edição do “Prémio Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”. A IA “já está a transformar silenciosamente o mundo e a entrar na vida dos doentes e dos profissionais de saúde, progressivamente influenciando a forma como diagnosticamos, tratamos e organizamos os cuidados de saúde”, constata João Eurico da Fonseca. Enquanto clínico académico, vê na IA um “enorme potencial para ganhar precisão, tempo e segurança, com a preocupação de garantir rigor científico, ética e transparência”. Tem, também, a convicção que a IA pode contribuir para “uma prática clínica mais humana e mais eficaz, ao libertar o médico de alguns procedimentos administrativos e ao aumentar a disponibilidade de informação crucial para decisões clínicas”.

Maria de Belém Roseira corrobora: “A libertação de tarefas mais administrativas que consomem os tempos dos médicos que deveriam ser investidos no aprofundamento da relação médico/doente, uma vez que cada um de nós tem uma singularidade irredutível, que influencia no comportamento da doença. Também a qualidade da gestão beneficia das ferramentas que a IA permite desenvolver, na busca da aplicação rigorosa e criteriosa dos recursos que são disponibilizados, sejam humanos, sejam financeiros”.

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