Como irá a "melhor economia do ano 2025", "doce como um pastel de nata, como titulou a revista The Economist, enfrentar e manter o popular título no incerto e beligerante ano de 2026?As condições de base, muitas das que permitiram à reputada revista inglesa dar o prémio a Portugal, estão reunidas.No plano externo, as taxas de juro estão a taxa de juro principal definida pelo Banco Central Europeu (BCE), a taxa de depósito, deve, quase de certeza, permanecer nos atuais 2%, o valor mais baixo desde finais de 2022, ajudando assim a manter as taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos de famílias e empresas em níveis relativamente contidos e estáveis.A taxa de juro do BCE é crucial para Portugal, na medida em que a economia privada continua a estar muito endividada. Idem no caso do sector público. Com juros estáveis, o problema da dívida fica menos saliente e exige menos recursos para ir baixando o endividamento.Relativamente ao custo da energia, outra variável externa crucial, as apostas é que se mantenha mais ou menos como está. Se assim não for, o problema será grave, como se viu há três anos, quando a Rússia abriu guerra contra a Ucrânia: fez disparar a inflação e o BCE começou a galopar nas taxas de juro, levando e um enorme aperto no consumo e no investimento.Recorde-se que, no início de 2022, o BCE teve de começar a subir juros para tentar travar a inflação galopante, que chegou a furar a barreira dos 10% com a forte subida dos preços da energia. Passou de 0% em julho de 2022 para um recorde de 4% em setembro de 2024.A taxa de juro atual (2%) será, pois, sem mais surpresas, para ficar nos 2%, assim como a inflação.A descida das taxas de juro do banco central presidido por Christine Lagarde terminou e os 2% serão mantidos até ao final de 2027, pelo menos, indica o gabinete de estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no novo outlook para as economias mais ricas do mundo.Ainda a nível externo, importa o estado de saúde dos principais parceiros da pequena e aberta (e dependente do comércio e do investimento) economia portuguesa.Espanha, o principal parceiro, parece estar a aguentar os tempos mais incertos e difíceis.O mesmo não se pode dizer das maiores economias europeias, como Alemanha, França e Itália, que caminham à sombra da estagnação, quase recessão.A estabilidade no comércio internacional também importa no curso de 2026. Depois do furacão das tarifas comerciais dos Estados Unidos que arrasou 2025, a maioria dos analistas espera um clima menos agreste nos próximos 12 meses, deste ponto de vista. Mas o mal está feito.Para compensar, outros riscos estão a emergir, como a exigente rentabilização dos enormes investimentos em inteligência artificial (IA) e a capacidade de manter o ritmo nas novas fontes de energia renováveis, agora que o petróleo parece estar na moda, outra vez.A nível interno, o caminho, diz o governo, é de investimento em infraestruturas críticas e muito mais em defesa e na área militar, muito dele ainda financiado com a "última grande oportunidade" do país nos fundos europeus (nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República cessante, que abandonará o cargo no início de 2026).Portugal não está sozinho no desígnio militar. Toda a Europa parece estar numa corrida contra o tempo na questão da defesa, com a guerra da Ucrânia ainda sem fim à vista e inúmeros focos graves de tensão e violência a fermentarem pelo mundo.O caminho exíguo das Finanças PúblicasO caminho para as Finanças Públicas portuguesas é estreito, faz saber o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento. É preciso continuar a entregar "pequenos excedentes" todos os anos para fazer descer a dívida que, embora em queda paulatina, continua a ser uma das mais elevadas da Europa.Segundo as novas previsões do Banco de Portugal (BdP), agora liderado por Álvaro Santos Pereira (que já foi de um governo PSD), o peso da dívida deve cair para 88,2% do Produto Interno Bruto (PIB).Não é mau, mas continua muito acima do limite máximo definido no Pacto de Estabilidade europeu, que é 60%.Paula Carvalho, economista-chefe do gabinete de estudos BPI Research, recorda que "a economia portuguesa tem sido uma das mais bem-sucedidas nos últimos anos" e o "recente prémio da revista The Economist"."De facto, Portugal tem crescido sistematicamente acima da taxa média de expansão dos países da zona euro, tem controlado a inflação, próxima dos 2%, um indicador de estabilidade de preços nas economias desenvolvidas".Além disso, "o mercado de trabalho encontra-se em pleno emprego e a criação de emprego continua a surpreender; e os principais desequilíbrios estão a diminuir, particularmente em termos de dívida externa e, internamente, das empresas, das famílias e do Estado".No entanto, e apesar do potente turismo, a economista nota uma "vulnerabilidade nas contas externas". "Vemos confirmado o impacto negativo da imposição de tarifas por parte dos EUA, quer pelo aumento da incerteza, pelo crescimento mais fraco entre os principais parceiros ou diretamente no comércio com os EUA".Numa análise separada, Tiago Correia, economista do mesmo BPI Reserch, aponta que "no campo legislativo e com a aprovação do Orçamento do Estado de 2026 perspetivam-se medidas que poderão ter impacto no mercado de habitação".Contudo, o analista alerta que "as nossas previsões incorporam sempre o facto da acessibilidade à habitação continuar a agravar-se", quando esta é medida pelo nível do rácio preço das casas / rendimento português, que é "dos mais elevados da OCDE".Sonja Förster, economista da agência de ratings Morningstar DBRS, considera que a política do BCE vai "manter" as taxas de juro baixas, mas deixa um pequeno alerta aos portugueses."Em países onde os empréstimos a taxas de juro variáveis são comuns, como Portugal, Grécia, Suécia e, em menor grau, Espanha e Itália, os cortes nas taxas demoram seis a 12 meses a refletir-se totalmente nas carteiras dos empréstimos, pelo que o impacto dos cortes nas taxas tenderá a ser menos acentuado em 2026", isto é, o alívio que se tem sentido na parcela dos juros vai começar a esvair-se. Por esta via, o rendimento disponível de uma família endividada tenderá a estagnar.Mas voltemos ao mundo em redor de Portugal. Para José Ramón Díez, economista principal para a área internacional no gabinete de estudos do grupo catalão Caixa Bank (CaixaBank Research), dono do BPI, o ano de 2025 terminou "com poucos desenvolvimentos no ambiente económico e financeiro, para além dos últimos ajustes nas negociações comerciais que fixaram a tarifa média efetiva dos EUA em 13,8%".Na opinião deste perito, os "dois principais temas que irão moldar o desempenho da economia a médio prazo" são "a geopolítica e o investimento em inteligência artificial (IA)"."Para a Europa, dada a importância dos desafios relacionados com a demografia, a transição energética e a competitividade, o principal desafio a curto prazo é a geopolítica (terras raras, segurança económica, defesa, Ucrânia, etc.), seguido – e interligado – pela necessidade de se posicionar dentro da cadeia de valor da IA", sublinha Díez.A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) acaba de lançar o seu “risk outlook” de 2026. Nele diz que o dinamismo moderado da economia "deverá beneficiar da redução gradual da incerteza (para a qual o acordo comercial entre os EUA e a União Europeia contribuiu), das condições de financiamento menos restritivas e da aceleração do investimento e do consumo".Para o regulador da bolsa e dos mercados financeiros, "o aumento das remunerações do trabalho e a descida da inflação deverão reforçar o poder de compra das famílias e, juntamente com a redução da taxa de poupança, apoiar o crescimento do consumo privado". Depois, a diminuição da incerteza na Europa "deverá impulsionar gradualmente o investimento, sobretudo num contexto em que é esperado o aumento da despesa em defesa e infraestruturas e o apoio através do programa de fundos europeus Next Generation EU", o envelope que financia, entre outras coisas, o Plano de Recuperação e Resiliência, que acaba neste ano que agora entra.