Sem rosas. O tesouro da rainha mostra-se em Lisboa

500 anos após a sua canonização, Museu de Arte Antiga, em Lisboa, reúne e exibe os cinco objetos da rainha Santa Isabel
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Um relicário, um bordão, uma cruz processional, um colar e uma virgem de prata. São estes cinco objetos, todos com mais de seis séculos, que formam o tesouro da Rainha Santa Isabel, que o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, reúne pela primeira vez para mostrar ao público. Na Sala do Teto Pintado, a completar a exposição, a instituição juntou duas pinturas que representam a rainha: uma da oficina de Quentin Metsys, cedida pela Gemäldegalerie, de Berlim, e outra de Zurbarán, vinda do Museu do Prado, em Madrid.

"Isto é um tesouro medieval, riquíssimo e só foi preservado até agora por causa da imagem da rainha, que foi beatificada [1516] e canonizada [1625], e da associação a esses objetos de poderes de proteção por parte da população. Se não fosse isso, teria desaparecido", defende a curadora Luísa Penalva, do MNAA. Uma imagem que a própria rainha construiu em vida. Chegada a Portugal em 1283, com apenas 12 anos, para casar com D. Dinis, deixou vários testemunhos disso, como assinala a responsável: "por um lado, acompanhou de perto a construção do seu próprio túmulo, que é a imagem que deixa para a posteridade; por outro, deixou uma série de objetos, referenciados no seu testamento, que entrega ao Convento de Santa Clara, o convento da sua devoção".

Quatro desses objetos estão nesta exposição e, a seu pedido, foi enterrada com o quinto - um bordão, símbolo da peregrinação a Santiago de Compostela, que só foi descoberto em 1612 quando o seu túmulo foi aberto para o corpo, incorrupto, ser trasladado de Santa a Clara-a-Velha para Santa a Clara-a-Nova. "É a esses cinco objetos que chamamos o tesouro. Após a extinção das ordens religiosas [em 1834], primeiro foram para o Museu de Pratas da Sé de Coimbra e, depois, foram divididos entre o Museu Machado de Castro e a Confraria da Rainha Santa Isabel. É essa história que estamos a contar. Pela primeira vez estamos a mostrar o tesouro novamente reunido", salienta a curadora.

Para esta exposição, "fizemos uma grande investigação em torno de todos eles", refere, adiantando que também se focaram "na imagem que a rainha construiu em vida e naquela que foi formada após a sua morte, explica a responsável.

Investigação traz surpresas

Uma das peças em destaque é uma virgem em prata, "lindíssima, um trabalho extraordinário em termos técnicos e de dimensão, a maior que temos em Portugal, provavelmente", diz Luísa Penalva. "No testamento, a rainha diz que é para emprestar às mulheres de sua casa, no sentido lato, quando se casassem, porque estava associada a uma questão de fertilidade e também de um bom parto".

Estas duas questões estão também ligadas ao colar, outras das peças em exibição. Mas aqui, a investigação realizada trouxe uma novidade: "foi sempre considerado que poderia ser um colar ou um cinto que era emprestado às parturientes para terem uma boa hora. Até pode ter isso usado para isso, mas chegámos à conclusão que seria, isso sim, parte da sua própria coroa".

A completar o tesouro, o Museu Nacional de Arte Antiga juntou duas pinturas que ilustram o processo de beatificação e de canonização da popularmente conhecida como rainha do Milagre das Rosas. Uma delas encomendada pela rainha D. Leonor, mulher de D. Manuel I, à oficina Quentin Metsys, quando se começou a campanha para a sua beatificação. "Não se sabe como saiu de Portugal no século XIX e acabou na Gemäldegalerie de Berlim", confessa a curadora.

O quadro de Zurbarán faz parte da série de pinturas de santas do pintor espanhol e faz parte do momento em que a corte espanhola, através de Filipe III de Portugal, faz campanha pela canonização da rainha.

Esta exposição, pensada pelo Museu de Arte Antiga para assinalar os 500 anos da canonização da rainha, em junho seguirá para o Museu Machado de Castro, em Coimbra, onde está prevista uma grande cerimónia, durante a qual será possível ver uma das mãos da Rainha Santa, através de uma das janelas de cristal do atual túmulo, em prata.

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