"É um repositório de informação muito importante, porque ilustra a trajetória de um cantautor com muito peso na música portuguesa, e documenta a rede de relações artísticas, como a música, o teatro, a intervenção", afirmou à agência Lusa o investigador Manuel Pedro Ferreira, que preside ao CESEM, da Universidade Nova de Lisboa..O processo de tratamento do arquivo começou há cerca de três anos, com visitas regulares a casa de José Mário Branco, em particular a uma marquise onde estavam depositadas caixas com documentação.."Foi-nos emprestando o material, fazíamos a limpeza, o tratamento, a digitalização e devolvíamos. Foi um processo lento", recordou o investigador..Segundo Manuel Pedro Ferreira, diretor científico do projeto, o CESEM teve 'carta branca' de José Mário Branco para entrar no arquivo profissional. Ficaram de fora algumas gravações por questões contratuais com editoras..De resto, será possível pesquisar informações relacionadas com o processo de trabalho de José Mário Branco enquanto compositor, intérprete e produtor, sobre o tempo de exílio em França, sobre a colaboração com José Afonso, sobre o trabalho no coletivo Grupo de Acção Cultural - Vozes na Luta, exemplificou o investigador.."É um arquivo central para se perceber como é o universo da música de intervenção, a relevância política, social e cultural e também para potenciar reinterpretações do repertório. É memória que está ao serviço de uma reutilização", disse..A base de dados, na qual estará já acessível oitenta por cento do arquivo do músico, é divulgada numa altura em que ainda se assinalam os 50 anos de carreira de José Mário Branco, desde que gravou em 1967 o primeiro EP, "Seis cantigas de amigo", editado dois anos depois pelos Arquivos Sonoros Portugueses..À boleia dessa efeméride - que o próprio desvaloriza -, a editora Warner reeditou em dezembro todos os álbuns do autor e, na semana passada, lançou um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999, nunca antes editados em digital..Em maio, pouco antes de completar 76 anos e a propósito da edição de "Inéditos 1967-1999", explicou à agência Lusa que não dá importância nenhuma a efemérides e celebrações de datas redondas. "Não são coisas que me motivem muito, tenho respeito pelo respeito das pessoas, mas essas histórias das efemérides...", afirmou..Em setembro será o autor em destaque na Feira do Livro do Porto, cidade onde nasceu em 25 de maio de 1942..A apresentação do arquivo digitalizado de José Mário Branco está marcada para terça-feira, às 17.00, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a presença do autor.