Pela primeira vez, um homem fez de bailarina no ballet clássico

Chase Johnsey está a fazer história. Subiu ao palco como o primeiro homem a interpretar um papel feminino num ballet clássico. Aconteceu em Londres
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Encontrem-me! O desafio está na legenda do vídeo que Chase Johnsey publicou no Instagram. A tarefa é árdua e esse é objetivo do artista. Ser apenas mais uma bailarina no corpo de baile da peça A Bela Adormecida, em cena desde quarta-feira no Coliseum Theater, em Londres. Este é um momento histórico: pela primeira vez um homem interpretou um papel feminino no ballet clássico.

"Estou a quebrar barreiras porque há demasiada gente que ama o ballet e que sente que não tem lugar nele. Eu serei eu, para que vocês se sintam livres para serem vocês", escreveu noutra publicação no Instagram.

Chase Johnsey, desde março no English National Ballet, é um norte-americano de 32 anos, nome masculino e género fluido, que quer ser visto "como bailarina", como explicou ao The New York Times. "O meu cabelo está para cima, uso maquilhagem e roupa de mulher. Sou capaz de interpretar papéis femininos e assumir o papel, portanto é o que artisticamente faço". Incluindo dançar em pontas.

Apesar não dançar em pontas na peça A Bela Adormecida, calçar as sapatilhas de ballet é algo que Chase Johnsey começou a fazer secretamente aos 14 anos, como contou ao mesmo jornal.

Três anos depois juntava-se à Les Ballets Trockadero de Monte Carlo, uma companhia de Nova Iorque em que os bailarinos interpretam papéis masculinos e femininos. Há um ano ganhou o Prémio Nacional de Dança do Reino Unido pelas suas interpretações com os Trocks. Mas, ao contrário do que acontecia com este grupo, em que o humor estava presente, nas peças do English National Ballet não pode sobressair.

As regras são muito apertadas e o corpo feminino muito estereotipado - magro e de proporções harmoniosas. E em peças do século XIX como A Bela Adormecida, com um corpo de baile, as bailarinas não podem ser muito diferentes entre elas. Chase Johnsey explica como está a tentar cumpri-las. Desde que ingressou no English National Ballet, perdeu nove quilos com a ajuda de uma nutricionista e trabalhou o corpo com treino específico.

A diretora do English National Ballet, Tamara Rojo, diz que o convite ao artista pretende "refletir o mundo em que vivemos". "Existem diferentes raças, culturas e credos na nossa companhia - este é apenas mais um aspeto". E conclui: "Penso que o ballet pode ser um ambiente perfeito para a fluidez de género. Estamos numa posição em que podemos abrir papéis a muitas pessoas. Claro que alguns requerem força e são menos evidentes para estes cruzamentos. Mas o potencial está lá".

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