A morte de George Michael suscitou na China memórias do histórico concerto dos Wham! em Pequim em 1985, no primeiro espetáculo do género após décadas de isolamento cultural sob a governação do líder comunista Mao Zedong..Cerca de dez mil chineses esperaram durante horas para comprar os bilhetes, que na altura custaram cinco yuan (68 cêntimos de euro), para o espetáculo realizado no Ginásio do Povo, no nordeste de Pequim. "Foi a primeira vez que uma banda ocidental atuou na China, toda a gente se queria levantar e fazer barulho", contou à Associated Press Li Ji, o proprietário de um restaurante que esteve no concerto. "Mas havia tantos polícias, que ninguém se atrevia", recorda..Simon Napier-Bell, o representante do grupo, passou 18 meses a persuadir as autoridades chinesas a permitir a atuação do grupo, utilizando o argumento de que o espetáculo iria ajudar a trazer investimento estrangeiro para o país. A China tinha acabado de adotar a política de reforma e abertura, pondo termo a décadas de ortodoxia maoista. A polícia manteve os espetadores sentados, enquanto aqueles que se levantavam para dançar eram levados para fora da sala..O grupo influenciou também vários músicos chineses, que nunca antes tinham visto uma atuação ao vivo com guitarras elétricas e passaram a interessar-se por Rock and Roll. Entre eles destaca-se Cui Jian, um antigo trompetista da Orquestra Filarmónica de Pequim, que se viria a tornar o "pai do rock chinês"..Durante a Revolução Cultural (1966-1976), o rock esteve banido da China, por ser considerado "reacionário" e "burguês". Aquele género de música começou a ganhar adeptos entre a juventude chinesa na década seguinte, sobretudo através de bandas de Hong Kong, então sob domínio britânico, e cassetes que chegavam ao país via diplomatas ou estudantes estrangeiros..A televisão estatal CCTV passou hoje alguns momentos do concerto dos Wham! em Pequim, que recordou como tendo sido "impressionante".