O humor malandro de Ricky Gervais está de volta

Special Correspondents não é um telefilme mas só chega via Netflix, com um humor viperino do realizador e ator inglês.
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Espécie de anti-O Caso Spotlight, Special Correspondents, de Ricky Gervais, é uma sátira ao jornalismo falso americano. Uma comédia com o humor de irrisão do comediante inglês, protagonizada por ele e Eric Bana. Por outras palavras, uma deliciosa crítica aos processos de fabrico de entretenimento jornalístico dos media americanos com toda a sua bazófia e histerismo.

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O filme é mais uma longa-metragem "original" (é assim a assinatura) do serviço de internet Netflix e, ao contrário de Beasts of no Nation, de Cary Joki Fukunaga, não vai ter simultaneamente estreia nas salas - fica disponível nesta sexta-feira em todo o mundo para os assinantes do serviço. Em Paris, durante o lançamento do filme, Reed Hastings, cofundador e CEO da Netflix, garantia ao DN que o filme foi feito com um orçamento de cinema: "Orçamento e escala. Não foi feito nos moldes de um telefilme." Tem razão, pensamos nós, mas também lamentamos que a experiência do drama de guerra Beasts of no Nation não se tenha repetido, ou seja, não vai ter a respeitabilidade do lançamento em cinema (a sua qualidade poderia até permitir presença em festivais).

Special Correspondents, no atual panorama da comédia norte-americana, fazia figura de obra-prima... Trata-se de um humor com marca de autor - toda a capacidade ofensiva e deliciosamente maldosa de Gervais está lá. "Há um momento no filme em que a personagem de Gervais brinca com a falta de orçamento, mas ele aqui não se pode queixar. Este é um filme legítimo. Creio que ele quis trabalhar com a Netflix porque pode fazer o que quiser", insiste Hastings com um charme de patrão criativo.

Numa conferência de imprensa também em Paris, o próprio Gervais chegou a insinuar que atualmente a única maneira de fazer uma comédia de autor em Hollywood é através da Netflix. Uma insinuação provavelmente com madeixas de trauma depois das suas últimas realizações não terem sido bem lançadas pelos grandes estúdios de Hollywood: A Invenção da Mentira (2009) e Cemetery Junction (2010), ambos falhanços comerciais. Curiosamente, já tem concluído mais um filme, David Brent - Life on the Road, em que volta a dar pele à personagem que o celebrizou em The Office, a série de televisão da BBC. David Brent - Life on the Road não terá o selo da Netflix.

Ted Sarandos, o produtor principal da Netflix, também conta ao DN o seu grau de satisfação com Special Correspondents: "Estamos muito felizes com esta comédia e é uma grande honra termos a trabalhar para nós um dos maiores talentos mundiais de humor. A grande vantagem é que este filme vai ser logo visto por milhões de pessoas." Um dos anteriores filmes produzidos por si tinha sido A Very Murray Christmas, de Sofia Coppola, comédia de 54 minutos com Bill Murray a brincar com Bill Murray. Special Correspondents conta-nos a história de um jornalista de rádio (Eric Bana) sem escrúpulos que é enviado para o Equador para cobrir uma situação de guerra civil. Por aselhice do seu técnico de som não consegue embarcar e decide fingir em Nova Iorque que está de facto na selva perigosa do Equador. A partir daí, desenrola-se um chorrilho de mentiras que apaixona a opinião pública americana. A dada altura, os dois chegam a fingir o seu próprio sequestro. Gervais está sobretudo a filmar com um tom ofensivo a ignorância americana, a grande ignorância e estupidez americana.

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