Lobo Antunes elogia obra de Raduan Nassar

A editora Companhia das Letras vai reeditar a obra do mais recente Prémio Camões. Lobo Antunes considera-o um dos "maiores escritores do século XX da literatura de língua portuguesa.
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Os leitores que não quiserem esperar o tempo que falta para a reedição da obra do mais recente Prémio Camões, Raduan Nassar, ainda podem encontrar exemplares de A Menina a Caminho (editora Cotovia), O Copo de Cólera e A Lavoura Arcaica (Relógio D"Água) na Feira do Livro de Lisboa. Para os que preferirem as novas edições da Companhia das Letras, a espera não será muita... A editora Clara Capitão anuncia a antecipação deste segundo título já para este mês (estava agendado para julho) e o terceiro antes do fim do ano. Para o primeiro, no entanto, ainda não há data definida. Entretanto, Raduan Nassar já estabeleceu as regras para as capas portuguesas que, esclarece a responsável, serão "sóbrias e sem imagens", mesmo que aceite uma fotografia sua na badana.

As tiragens, que já estavam decididas antes da atribuição do Camões, serão altas para um escritor de grande densidade como é Nassar: "Facilitará a divulgação de uma obra que não é de leitura fácil e que exige uma releitura para se entender as várias camadas do texto. Tem uma característica torrencial, que o torna de difícil captação, até porque inclui tanto o registo coloquial como uma oralidade muito forte." No caso de O Copo de Cólera, a estrutura da obra é fora do comum, como explica Clara Capitão: "Tem sete capítulos com um par de páginas cada e uma única frase. O penúltimo capítulo, é diferente: são cinquenta páginas sucessivas, com uma discussão entre um casal."

Lobo Antunes "satisfeito"

Entre as reações ao anúncio de Raduan Nassar como vencedor do Prémio Camões, também está a de António Lobo Antunes. Ao saber da notícia, o escritor descreve ao DN que sentiu "uma grande alegria" por lhe ter sido atribuído. Para Lobo Antunes, a entrega do Prémio até peca por ser muito tardia: "Já o deveria ter recebido há muitos anos." Quanto ao facto de só ter três livros publicados e estar fora da ribalta literária há duas décadas, esta é uma situação que não incomoda o escritor: "Tem muito talento e é um grande autor." Daí que diga que considere uma realidade a não ser levada em conta na atribuição do maior galardão da literatura de língua portuguesa.

Lobo Antunes faz questão de comparar a breve dimensão da obra de Nassar com a de outro dos grandes escritores que merecem a sua maior admiração: Juan Rulfo. "Lembrei-me logo de Rulfo, que só tem um romance publicado, mas que é das obras mais importantes da literatura mundial na minha opinião. Antes, tinha escrito um livro de histórias mais curtas para aquecer e poder escrever Pedro Páramo, em apenas 120 páginas. E, depois, mais nada", refere.

A concessão do Camões pelo júri, acrescenta, comprova que os seus membros "tiveram em conta a importância de um dos maiores nomes da literatura brasileira". Vai mais longe ao declarar Nassar como "um dos mais importantes escritores do século XX da literatura em língua portuguesa". Por isso, remata, "o júri está de parabéns!" Segundo Lobo Antunes, a obra de Nassar confirma "um grande talento" e foi isso que em tempos percebeu da leitura do seus livros. Considera que ter-se retirado há duas décadas da vida pública "para ir tratar das galinhas" poderia ter criado no autor uma certa repulsa pelo regresso a algum protagonismo: "Felizmente, não recusou o Prémio. Quando soube da atribuição, tive esse receio. Ainda bem que assim não aconteceu.

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