23 dezembro 2015 às 00h05

Lâmpada provocou incêndio no Museu da Língua Portuguesa

Fogo que consumiu parte do centro cultural em São Paulo teve origem em curto-circuito. É um dos mais visitados da cidade

João Almeida Moreira, São Paulo

O incêndio que atingiu o Museu da Língua Portuguesa, situado no centro de São Paulo, foi causado pela troca de uma lâmpada num candeeiro, segundo relato de funcionários do centro cultural à proteção civil. Ao longo do dia de hoje, logo que os bombeiros terminem o rescaldo da operação, a perícia técnica irá confirmar ou contrariar a versão. "É provável, sim: uma simples troca de lâmpada, sem a prevenção adequada, pode causar um acidente deste género", disse entretanto Milton Bersoli, o chefe dos bombeiros no local.

O fogo que destruiu parte do museu - principalmente os dois últimos pisos de uma estrutura de três andares - deflagrou durante a tarde de segunda-feira na Estação da Luz, onde se situa o museu, e causou a morte de um dos 120 bombeiros destacados para o combater. Apesar da ajuda da chuva, o incêndio demorou três horas. Não houve mais vítimas por ser o dia de encerramento ao público. Do ponto de vista material, a maior parte do acervo cultural tem cópia digital, afirmaram os curadores do museu, o que no entanto não invalida fortes danos.

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"Íamos criar novas dinâmicas no museu, que completa dez anos no próximo ano, uma triste ironia", disse Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, responsável pela conceção e instalação do museu em 2006 - um projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, coautor do novo Museu dos Coches, em Lisboa.

Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, já disse que vai "procurar, imediatamente, a iniciativa privada para iniciar a reconstrução". Segundo outras autoridades locais, o museu, de 4,3 mil metros quadrados, tinha todos os equipamentos de segurança, mas faltava um documento.

Portugal ajuda

O ministro da Cultura, João Soares, já disse que o governo português está "absolutamente disponível" para ajudar na recuperação. Referiu que entrou em contacto com a Secretaria de Estado da Cultura do Brasil para apoiar na renovação do museu, que visitou há anos. O ministro da Cultura disse ainda que vai ainda hoje receber o cônsul de Portugal em São Paulo, que está em Lisboa, para analisar a situação. "Nós temos experiência neste tipo de acidentes. Tenho pessoalmente experiência aquando do incêndio há uns anos nos Paços do Concelho em Lisboa e meti logo mãos à obra", disse.

400 mil visitantes

O Museu da Língua Portuguesa, com 386 mil pessoas, está no top 5 dos museus mais visitados na maior cidade do Brasil, segundo dados da empresa de turismo e eventos SPTuris, atrás apenas do Museu da Imagem e do Som, do Catavento Cultural, da Pinacoteca e do Museu do Futebol.

Tecnológico e interativo, a sua principal imagem de marca, o museu foi criado para apresentar as origens, a história e a evolução da língua falada por 270 milhões de pessoas em todo o mundo (ver caixa). No segundo e no terceiro andares, os afetados pelo incêndio, ficavam a Praça da Língua, onde palavras eram projetadas no espaço, as Palavras Cruzadas, totens interativos que mostravam a influência de línguas e povos no português, a Grande Galeria, um ecrã de 106 metros com filmes sobre o uso da língua. No primeiro andar, que escapou à devastação, situa-se uma escultura de aço chamada a Árvore da Língua.

"Era tratado como uma ideia maluca: vocês vão expor o quê? Palavras?", lembrou ao jornal Folha de S. Paulo o antropólogo e poeta Antonio Risério, um dos idealizadores do projeto. "E sim", explica, "foi criado para ser um parque de diversões da língua".

Incêndio de 1946

É a segunda vez que a Estação da Luz, cuja construção coincidiu com o enriquecimento de São Paulo graças ao comércio de café, é atingida por um fogo. Na primeira, em novembro de 1946, a estrutura foi reconstruída segundo o projeto original que lembra a londrina Abadia de Westminster, onde está o relógio Big Ben, e terá tido origem criminosa. O fogo deu-se dois dias antes de ficar acertada a transferência da São Paulo Railway Company, cujos escritórios ficavam na estação, para a alçada do governo brasileiro, e consumiu todos os documentos da empresa.

Com Lusa