Um Domingo pouco placido no regresso a Lisboa

Foram três horas intensas com o tenor e as suas convidadas.
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Placido Domingo não desiludiu ninguém no espetáculo do 80 anos de Rádio Renascença ontem numa Meo Arena quase repleta. Dividido em duas partes, uma primeira com um repertório clássico a solo e com Davinia Rodriguez, bem como a soprano portuguesa Rita Marques, que arrancou a primeira grande ovação ao interpretar Flauta Mágica de Mozart.

A segunda parte foi mais popular, com um tenor adepto de um repertório em que interpretou musicais e varios temas tão ao gosto da audiência, como o Besame Mucho, talvez a maior salva de palmas da noite. O grande final aconteceu com a fadista portuguesa Katia Guerreiro, que seduziu o maestro Domingo a cantar consigo o fado Foi Deus, a segunda grande ovação da noite.

No final, Placido Domingo agradeceu este regresso a Lisboa e assumiu que dez anos é muito tempo para estar ausente dos palcos portugueses. Um concerto onde nada foi plácido, pode dizer-se, e onde no fim os fãs não deixaram o tenor ir-se embora antes de conversar com ele. Houve mesmo quem interpretasse uma ária para convencer o cantor a aproximar-se e conversar.

Os momentos altos das três horas nunca deixaram de pertencer a Placido Domingo que, ao escolher um repertório onde a sua voz se encaixa bem, conseguiu o pleno nas suas presenças em palco sempre alternadas com as suas convidadas: Davinia Rodriguez, Rita Marques e Katia Guerreiro. A primeira sempre desejosa de atirar a sua voz para o imenso pavilhão; a segunda, discreta mas com poderosas interpretações, e a terceira com um longo momento em que cantou fados a solo e com Domingo. Aliás, a interpretação de Guerreiro e Domingo criou alguns dos maiores momentos de empatia com o público, tendo o tenor lido a letra de Foi Deus numa pauta que trazia como uma espécie de cábula e obedecendo aos versos quando diziam que se devia juntar as mãos ao peito.

Verdi, Lehár e Rossini foram os compositores eleitos, sendo que a Orquestra Sinfonieta de Lisboa esteve sempre à altura da batuta de Eugene Kohn, mesmo quando foi obrigada a interpretar 'cavalarias' para aquecer o público ou temas do musical Música no Coração de enfiada, a par de outros de South Pacific, para que Domingo pudesse aligeirar os momentos operáticos. Tanto assim que os espectadores se entusiasmaram, ora batendo palmas a acompanhar alguns temas, ora a acompanhar o tenor em certas canções, chegando mesmo Domingo a pedir que cantassem mais alto: "Venga más volume!"

Ou seja, à exceção do decote exagerado do primeiro vestido de Davinia Rodriguez, que deverá ter escandalizado os mais católicos - até porque sobrava muito tecido a arrastar pelo chão -, correu tudo bem. Uma noite ao agrado da maioria dos que foram celebrar Placido Domingo e os 80 anos da Rádio Renascença.

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