Lloyd Cole e os amigos em Portugal
Há um rapaz que, já há uns 20 anos, descia ao Cais do Sodré, quando o Cais do Sodré não era o que é hoje, e se sentava no British Bar a beber cerveja. O tipo atrás do balcão que o servia nunca sorria - e mesmo depois de terem ficado amigos continuou sem sorrir ao rapaz. "Gosto disso", conta o britânico, hoje já menos rapaz - nos seus 55 anos.
Lloyd Cole é esse rapaz que também gosta de Portugal, vem cá com frequência, e por estes dias apresenta-se em quatro palcos (começou na quarta em Aveiro, atuou esta quinta-feira à noite no CCB em Lisboa, esta sexta estará na Guarda e no sábado no Porto) em formato acústico recuperando o seu livro clássico de canções de 1983 a 1996.
Classic Songbook é pois tudo aquilo que se ouviu no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém: de Patience, que abriu o concerto, a Forest Fire, com que fechou já no final do encore, Lloyd Cole despe as canções ao osso (primeiro a solo, depois acompanhado pelo filho William) e apresenta-as em versões em que a voz só se faz acompanhar de guitarra.
Todas as palavras - e que poeta é Lloyd Cole! - ganham em ser escutadas quase sem mais, ainda para mais perante um público que as reconhece muitas vezes logo aos primeiros versos mas que as bebe num silêncio cúmplice de quem viveu afetos e desamores adolescentes ao som de My Bag, Jennifer She Said, Perfect Skin ou Are You Ready To Be Heartbroken?
Lloyd Cole não canta só canções deprimentes, lembra o próprio. Mas a depressão não é para ali chamada: o humor pontua cada afinação das guitarras nas pausas entre canções e a noite é de nostalgia, sem qualquer receio, numa revisitação cheia de gosto, em que a voz continua cristalina, e as guitarras substituem sem falhas o som pop dos Commotions.
O rapaz que sabe dizer "duas palavras em português" ("Super" e "Bock", e ainda acrescenta "Sagres") deixou o palco perante um público rendido - os seus amigos em Portugal.