Nos andaimes, uma equipa de restauradores ocupa-se dos murais na sala do Alentejo. Nas Beiras, uma empregada lava o chão. Em Trás-os-Montes, arrastam-se móveis. Cheira a detergente e pelas janelas abertas entra o sol e vê-se o Tejo. Fechado desde 2003 e com morte oficialmente anunciada, o Museu de Arte Popular (MAP) renasce das cinzas, lentamente, pelas mãos da arquitecta Andreia Galvão, a enérgica directora convidada em Outubro para pôr de pé o novo MAP - vai reabrir "até ao final do ano", isso é certo, mas, hoje, Dia Internacional dos Museus, quem quiser pode lá ir ver o que se passa. A ideia é mesmo essa: "Abrir as portas à comunidade" e "mostrar um museu em construção". .Ainda sem colecção - o espólio, guardado no Museu de Etnologia, está agora a ser estudado e limpo - mas já com muito para mostrar: o edifício, em Belém, resultado da adaptação de alguns dos antigos Pavilhões da Vida Popular projectados pelos arquitectos António Maria Veloso Reis Camelo e João Simões, integrados no conjunto construído para a Exposição do Mundo Português de 1940. Os murais de TOM, Paulo Ferreira, Manuel Lapa, Eduardo Anahory, Carlos Botelho ou Estrela Faria, Tomáz de Mello e Manuel Lapa, e as esculturas de Júlio de Sousa. O mobiliário original (cadeiras, expositores, manequins nus mas que antes vestiam as roupas tradicionais portuguesas). E algumas preciosidades encontradas durante as arrumações (bilhetes, roteiros, fotografias antigas)..Para visitar e imaginar como foi e como vai ser. O MAP teve uma vida atribulada, desde a inauguração em 1948 e, sobretudo, após o 25 de Abril. Em 2000 iniciaram-se obras de requalificação do museu que tinha entrado em decadência e que levariam ao encerramento do espaço em 2003. "Mal amado e incompreendido, o museu foi abandonado, mas isso acabou por ser uma vantagem, porque se manteve praticamente intacto. É, ele próprio, um objecto museográfico, representativo da sua época", explica Andreia Galvão..Em 2006, a então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, anunciou que o MAP iria ser transformado em Museu da Língua Portuguesa. Mas nem todos gostaram das notícias. O movimento pela reabertura do MAP incluiu a criação de um blogue e de uma petição online que reuniu mais de três mil assinaturas. O crítico de arte Alexandre Pomar, a empresária Catarina Portas, a artesã Rosa Pomar, a historiadora Raquel Henriques da Silva e a artista plástica Joana Vasconcelos foram alguns dos rostos desta campanha que levou a uma mudança de planos. Em Dezembro, a nova ministra, Gabriela Canavilhas, anunciou que o museu "é para se manter tal como estava (…), dedicado à arte popular portuguesa". .E é isso que Andreia Galvão se propõe fazer ali. "Não quero fazer um museu tiro-liro-liro. Mas também não pode ser um museu de arte contemporânea", diz a directora. Há que conseguir um equilíbrio. Existe uma série de temas que podem ser tratados, da importância e da evolução desta zona beira-rio, o que foi a Exposição do Mundo Português, a identidade das diferentes regiões, as tradições que se perdem e as que estão a ser recuperadas. Ter um "museu vivo" implica pensar em novas estratégias para mostrar o espólio que se enquadrem na divisão por salas regionais mas que não se limitem a isso.