28 janeiro 2018 às 01h09

Flores para Sampaio Garrido e Carlos Branquinho

Coroa de flores homenageou os dois diplomatas portugueses que deram salvos condutos a um milhar de húngaros

Ana Sousa Dias, em Budapeste

"Quando hoje há tanto desleixo e ignorância em relação aos refugiados de outras zonas, esta homenagem traz uma mensagem com especial significado", comentou András Gulyás, o embaixador húngaro que serviu em Portugal quando o então presidente húngaro, Árpád Göncz, fez a primeira homenagem aos diplomatas portugueses Sampaio Garrido e Carlos Branquinho.

Falando em português e sem ajuda de qualquer escrito, András Gulyás falou do memorial que, a poucas centenas de metros, recorda os homens e mulheres assassinados pelo poder nazi nos dias anteriores à chegada do exército soviético a Budapeste: sapatos por eles deixados à beira do Danúbio, para onde foram atirados depois de executados a tiro. Podia ter dito apenas isto, mas foi além: o memorial, disse, "encontra-se por este rio acima, parafraseando Fernão Mendes Pinto e Fausto".

Uma coroa de flores verdes e vermelhas foi colocada no local onde em 1944 funcionou a embaixada de Portugal em Budapeste, numa homenagem aos dois diplomatas que deram salvos-condutos a cerca de mil húngaros, na maioria judeus, e assim evitaram que fossem assassinados. Estes refugiados voaram de Budapeste para Lisboa, e entre eles estavam cinco elementos da família Gabor, incluindo as atrizes Zsa Zsa e Eva, e o empresário Paul Sachs (fundador da Goldman Sachs), que depois foram para os Estados Unidos. Já antes tinham sido enviados para Auschwitz 437 mil húngaros.

A homenagem foi promovida pelo Festival Terras Sem Sombra e pela embaixadora de Portugal, Maria José Morais Pires, e todas as palavras foram de contenção, com a emoção à flor da pele. Além da diplomata, que recordou o embaixador Carlos Sampaio Garrido e o encarregado de negócios Alberto Carlos Branquinho, e de András Gulyás, falaram ainda o diretor geral do festival, José António Falcão, e o jornalista húngaro Endre Simó, que foi correspondente em Lisboa de 1974 a 1977. "Temos de fazer tudo para evitar que esta triste época histórica volte", disse este último também em português, com um agradecimento a Portugal pela ação "dos vossos diplomatas abnegados e heroicos".

No mesmo local estão placas evocativas dos diplomatas portugueses, colocadas em 1998, aquando de uma visita a Budapeste de António Guterres, então Primeiro Ministro.