Esquecer Freddie Mercury...
Era grande a desconfiança em relação a Adam Lambert, o escolhido para dar voz às canções dos Queen, nesta ressurreição da banda britânica, agora resumida ao guitarrista Brian May e ao baterista Roger Taylor. Afinal, seja quem for, é quase impossível substituir Freddie Mercury, o homem que reinventou o conceito de vocalista rock. O próprio cantor norte-americano de 34 anos o sabe, como fez questão de referir perante 74 mil súbditos fiéis dos Queen. "Freddie Mercury só há um", disse a dada altura, perante uma estrondosa ovação do público, agradecendo em seguida "o privilégio de poder prestar homenagem" ao cantor desaparecido em 1991. Mas se Freddy Mercury já não se encontra entre nós, as suas canções são eternas, como se viu na sexta-feira à noite, no Parque da Bela Vista, ao longo de quase duas horas e 23 canções, cantadas e celebradas por todos com uma devoção quase religiosa.
Com meia hora de atraso e perante a cada vez mais crescente impaciência do público, o concerto começou um trecho do tema Flash Gordon e mal Brian May, agora o grande mestre de cerimónias do grupo, pôs o pé em palco, para arrancar com The Hero, a audiência explodiu. Seguiu-se uma sequência com Hammer to Fall, Seven Seas, Stoned Cold Crazy, Fat Bottom Girls, Play the Game e Killer Queen, que serviu acima de tudo para fazer as devidas comparações entre o cantor que, ainda há uns anos, tentava a sua sorte em programas televisivos de talentos e agora tem a responsabilidade de substituir, em palco, uma das maiores lendas do rock. Até que se ouviram os acordes de I Want To Break Free e, de um momento para o outro, o espírito de Freddy Mercury desceu sobre o recinto. Já não importava quem cantava, se a voz era igual, parecida ou diferente, aliás, até podia não estar ali ninguém a cantar, que o público fazia à mesma a festa, cantando tudo do início ao fim.
Estava dado o mote para o que viria a ser o resto do concerto. Em Love of My Life, é Brian May que assume as funções de vocalista. Por momentos, a sua voz parece a do próprio Freddie Mercury. E era mesmo, com o antigo vocalista a surgir nos ecrãs gigantes a cantar, e no imenso anfiteatro da Bela Vista há quem não consiga conter as lágrimas. Segue-se Days of Our Lives, agora com o baterista Roger Taylor a cantar, ele que a seguir seria o protagonista de um intenso duelo de baterias com o filho, Rufus Taylor, membro dos The Darkness.