As muitas versões de Snu Abecassis
Em 2005, a jornalista Cândida Pinto ganhou o Grande Prémio Gazeta com uma reportagem feita para a SIC sobre Snu Abecassis, que também haveria de dar origem a um livro, publicado (obviamente) pela Dom Quixote: Snu e a Vida Privada com Sá Carneiro. Pela enorme pesquisa e pela quantidade de pessoas que são citadas, esta será talvez a obra que melhor retrata esta mulher "esquiva e reservada", cultíssima, que aterrou em Lisboa aos 22 anos e se confrontou com os rigores de uma ditadura e de um país fechado. É também com este livro que, através das palavras dos filhos, ficamos a conhecer o seu lado mais íntimo. Uma mãe pouco carinhosa, uma mulher "extremamente ocupada, com a profissão dela e com uma vida social intensa", que lhe deixa pouco tempo para os miúdos, como recorda o filho, Ricardo.
Mas este não é o único livro sobre Snu Abecassis. Em 2003 já tinha sido editada Snu, uma biografia escrita pela mãe, Jytte Bonnier. Para além de podermos ficar a saber mais sobre ela nas biografias do líder do PSD ( Sá Carneiro , de autoria de Miguel Pinheiro, 2010) e de Conceição Monteiro (A Confidente de Sá Carneiro, memórias publicadas também em 2010), é importante sublinhar que já antes deste filme Snu era uma personagem da ficção: aparece em Os meninos de ouro, romance que Agustina Bessa-Luís escreveu em 1983; e é protagonista de O Último Minuto na Vida de S., novela de Miguel Real publicada em 2007.
Em 2010, Maria João Rocha pegou nesse livro de Miguel Real e transformou-o num pequeno mas tocante espetáculo, protagonizado por Sylvie Rocha. Se no filme Snu, que se estreia setembro, ficamos à porta do avião - a realizadora optou por não recriar o acidente, o filme termina antes disso - neste espetáculo, colocamo-nos dentro do avião, naqueles minutos em que Snu e Sá Carneiro terão pressentido a morte. Aquele momento em que se olha para trás. Ela tinha apenas 40 anos.
Também em setembro mas na RTP1 estreia a série 3 Mulheres, ficção de 13 episódios com a escritora Natália Correia (interpretada por Soraia Chaves), a jornalista Vera Lagoa (Maria João Bastos) e a editora Snu Abecassis (Victoria Guerra). O realizador Fernando Vendrell explica que ação se desenrola entre 1961 e 1972, mostrando uma Snu jovem, que poucos conhecem, antes de Sá Carneiro: "Eram mulheres determinadas que obrigaram a sociedade, e os seus opositores, sobretudo homens, a transformar-se."