A trajetória de Philippe Garrel (n. 1948) impressiona, antes de tudo o mais, pelo caráter obsessivo das suas escolhas temáticas e derivações estéticas. De facto, eis um autor que herda as convulsões da Nova Vaga francesa - o seu primeiro título emblemático, Marie pour Mémoire, surgiu em 1968 -, transfigurando-as em histórias metódicas e, por assim dizer, maníacas sobre as contradições do impulso amoroso. Para nos ficarmos por alguns dos seus títulos mais recentes, lembremos a singular energia de Os Amantes Regulares (2005), A Fronteira do Amanhecer (2008) e Ciúme (2013).
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Reencontramos o seu rigor a preto e branco neste belíssimo À Sombra das Mulheres que, em maio de 2015, serviu de abertura oficial à Quinzena dos Realizadores, em Cannes: um triângulo amoroso que se cruza com a verdade ambígua do próprio cinema, já que duas das personagens fazem filmes documentais. Como sempre, os atores principais - Stanislas Merhar, Clotilde Courau, Lena Paugam - têm tanto de transparente como de enigmático.
Classificação: ****