A nave sinfónica-espacial de José Cid aterra em Lisboa e no Porto

A fase de rock sinfónico do cantor e compositor há muito conquistou a crítica especializada. 10 000 Anos depois entre Vénus e Marte volta a ser recriado ao vivo na totalidade, enquanto Cid promete novo disco para breve
Publicado a
Atualizado a

À palavra fã - no que à música respeita - associamos de imediato a imagem de um(a) adolescente em transe, quando não em histeria. Mas os preconceitos e as generalizações são o que são. Há fãs de todas as idades e podem ser fleumáticos e estar mais perto da reforma do que da escola secundária, como o que, de forma polida, interrompeu a nossa conversa com José Cid numa rua de Alcântara. "Ia vê-lo ao Mucifal", rememora o admirador de Cid. Mas se é uma verdade insofismável que "o tempo que passou não volta, não" (como ouvimos em 20 Anos, um dos maiores sucessos do cantor ribatejano), José Cid faz tudo para subverter o espaço-tempo: em 1978 lançou 10 000 Anos depois entre Vénus e Marte; entre 2014 e 2015 fez nova incursão espacial e apresentou ao vivo o disco (primeiro na Aula Magna e na Alfândega, depois no Coliseu dos Receios e na Casa da Música e, além de Lisboa e Porto, no Festival de Vilar de Mouros). Hoje a nave de Cid aterra de novo na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa e no dia 6 no edifício projetado por Rem Koolhaas.

[youtube:otfChsCRGf8]

Porquê esta revisitação de um álbum com quase quatro décadas? Se da primeira vez José Cid respondeu ao pedido de fãs, desta vez há outros argumentos: "O site Sputnik Music frisa a ideia de que é cantado em português e está entre os cinco melhores do mundo do rock progressivo, o que para mim é inacreditável." Além da crítica especializada, há agora uma edição especial do disco, que, além da remasterização do original em vinil e CD, conta com um DVD do concerto no Coliseu de Lisboa. "É uma edição fundamental, devolvemos o álbum à atualidade, e com isso podemos catapultar o álbum. Não devia dizer isto mas o DVD está espantoso, ultrapassa a minha expectativa", comenta.

[artigo:6257436]

Em 1978 o rock progressivo ou sinfónico era questionado artisticamente pelo punk e o disco (que conta a história da destruição da Terra, a fuga para o espaço e o regresso dos seres humanos ao planeta através de um casal, qual Adão e Eva) passou ao lado. "A reação foi muito estranha. "Está tudo drogado, o que é isto?". O álbum vendeu 700 a 800 vinis na época, mais nada. A verdade é que com a edição em 1994 nos EUA, pela editora Art Sublime, o disco arranca a nível mundial, numa altura em que a minha carreira estava apagada. Fiquei muito emocionado".

Para estes dois concertos de nível técnico exigente - "andei 35 anos com preguiça para a tocar este álbum outra vez" - José Cid revela que utilizou o DVD para ensaiar. Uma imagem incomum, Cid em 2017 a seguir Cid em 2014 que recria Cid de 1978. Do espetáculo fazem parte três faixas do futuro disco Vozes do Além, e outras gravações prog de Cid: Onde, Quando, Como e Porquê e Vida (Sons do Quotidiano). "E depois apertem os cintos e vamos partir para a viagem", lança o capitão da nave sinfónica-espacial.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt