A Força renova-se com nostalgia séria

O novo <em>Star Wars</em> não é nenhuma obra-prima mas tem um encanto natural que prescreve a receita iniciada por J.J. Abrams, atualmente o maior fabricante de sonhos de Hollywood. Estreia em Portugal esta quinta-feira.
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Fazer um Star Wars com a iconografia do fã mais "totó", não se importar em não seguir a "trend" da nova geração dos filmes de super-heróis e ter um imenso amor pelas personagens icónicas. O mérito é de Rian Johnson, cineasta que cresceu com os primeiros Guerra das Estrelas e que soube imaginar uma sequela com ideias atrás de ideias, entretenimento capaz de revolucionar o conceito "cliffhanger" e um final com mais piruetas que todas as equipas de ginástica do Leste juntas nas olimpíadas de Moscovo.

Star Wars: Episódio VIII: Os Últimos Jedi começa onde o anterior filme O Despertar da Força acabava; com Rey a tentar convencer Luke Skywalker para voltar para a Resistência ao mesmo tempo que a própria é tentada por Kylo Ren a optar pelo lado negro da Força. Enquanto isso, a Primeira Ordem, liderada pelo líder supremo Snoke, parece ganhar terreno às forças da Resistência, lideradas pela princesa Leia.

Sem ser perfeito e estando longe do estado de graça do anterior episódio, o filme assume-se como um triunfo nesta renascença do franchise, conseguindo estabelecer novos rumos narrativos sem nunca deixar de rimar com a primeira trilogia. Nesse aspeto, até poderá ser possível pensarmos em demasia reverência aos fios de intriga de O Império Contra-Ataca. O conceito aqui passou por um desvio ainda mais juvenil, como se a "disney ficção" fosse uma prerrogativa. Mas o que nos agarra acaba por ser a relação que o argumento tem com as personagens mais antigas, fazendo da nostalgia um intenso jogo terno, mesmo quando as insufla de um humor seco e ligeiro (por exemplo, este grave Luke Skywalker sabe rir de si próprio). Compensa igualmente a psicologia moral que reside entre o triângulo Luke/Rey/Kylo. Uma charada filosófica entre o Bem e o Mal com twists fulminantes e um suspense que explode no último terço do filme.

O novo Star Wars tem também uma carga iconoclasta com diálogos que incluem tiradas que vão ficar no imaginário da nova geração e uma imensa escala de produção, capaz de viagens a novos mundos e coreografias de ação e efeitos visuais como nunca antes Hollywood fez. Sim, é um filme gigante, imenso na sua ambição. Esteticamente arregala o olho sem se desviar da nova cartilha criada por J.J. Abrams. Lucas já não mora aqui mas o gozo e o divertimento desta space opera permanece intacto e com um carisma que se desdobra e renova. A força continua por aqui mesmo com ligeiro retrocesso comparativamente ao último episódio. Naturalmente, vai parar o mundo. Mas, repito, só os fãs a sério é que vão tirar proveito deste "filme do meio". O melhor ainda está para vir.

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