A estrela que veio de Marte (aqui tão perto)
Bruno Mars é a cabeça-de-cartaz de amanhã no Rock in Rio e um dos mais esperados no festival. O músico que nasceu Peter Hernandez, e que aos 4 anos já imitava Elvis Presley em concertos, vendeu mais de 26 milhões de álbuns
Quem é Peter Hernandez, que nasceu a 8 de outubro de 1985 no Havai, depois de o pai ter diminuído as luzes da sala de partos, como numa discoteca, e de ter posto um leitor de cassetes a tocar? A publicação que fez neste domingo na sua página de Facebook - celebrava-se o Dia do Pai nos Estados Unidos - denuncia-o. Bruno Mars (Marte, em português) nasceu com o nome do pai, porto-riquenho judeu, a quem ali agradecia por lhe ter ensinado tudo o que aprendeu, "do anel do dedo mindinho aos sapatos de verniz e, mais importante, a fazer da música uma enorme parte da vida enquanto criança".
Peter Hernandez, o filho, aos 4 anos já imitava Elvis Presley na banda da família, os Love Notes, sabia de cor as cassetes de James Brown e de Michael Jackson, e esperava ansiosamente que a campainha da escola soasse para entrar no mundo da música. Bruno Mars, que amanhã sobe ao Palco Mundo do Rock in Rio (festival que começa hoje no Parque da Bela Vista), cerca de um ano depois de um concerto na Altice Arena, já vendeu mais de 26 milhões de álbuns e de 170 milhões de singles. E gabe-se a capacidade de reclusão de quem conseguiu chegar até hoje sem nunca ter ouvido canções como Uptown Funk (com Mark Ronson), Locked Out of Heaven ou The Lazy Song.
Na última edição dos Grammys, em janeiro, a noite foi dele (e de Kendrick Lamar, justiça seja feita). Com o seu último álbum 24K Magic (2016), o sucessor de Unorthodox Jukebox, venceu seis prémios Grammys naquela noite para a qual partiu com 27 nomeações. Ganhar o trio melhor álbum, gravação e canção é uma proeza que só outros nove artistas atingiram, entre eles Simon and Garfunkel, Eric Clapton, Norah Jones e Adele (que a repetiu depois).
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O filho de um percussionista porto-riquenho e de uma bailarina de hula filipina é um dos poucos que se podem gabar de ter ocupado mais do que uma vez aqueles cerca de 13 minutos preciosos que fazem do intervalo do Super Bowl um dos momentos musicais mais marcantes de cada ano nos EUA, visto na televisão por cerca de cem milhões. Em 2014 coube-lhe o espetáculo principal com a sua banda, os Hooligans, a brilhar, e dois anos depois haveria de voltar, para 13 minutos que dividiu com Beyoncé e os Coldplay.
Quem vai comprar os teus álbuns?
Mas o caminho de Bruno Mars não se fez em linha reta. Voltemos atrás, aos tempos do miúdo que imitava Elvis Presley - foi nessa condição que apareceu no filme Honeymoon in Vegas (1992), de Andrew Bergman, com Nicolas Cage e Sarah Jessica Parker. Uma vez, antes de um dos muitos espetáculos em que entreteve turistas e locais, no Havai, esqueceu-se de ir à casa de banho e cantou Can"t Help Falling in Love completamente encharcado, contou à Rolling Stone . Entre todos, Mars terá sido o que menos se importou com o sucedido, que não o terá chegado sequer a perturbar ao cantar a canção.
No auge do sucesso financeiro da família, o pai teve sete Cadillac e viviam numa grande casa em Kahala, recordou ainda à Rolling Stone. Mas, quando Mars tinha 11 anos, a banda The Love Notes acabou, como o casamento dos pais, e a situação mudou. Bruno Mars mudou-se então para uma favela do Havai com o pai, passou a ser gozado na escola (chamavam-lhe Peter Pan Hyma Dingier - a segunda parte do nome permanece um mistério), embora os mesmos que gozaram com ele viessem a ser os seus grandes amigos. A certa altura, conta, o pai vendeu todos os objetos que tinha do Elvis, que lhe renderam 125 dólares. Com o dinheiro, comprou ao filho, grande admirador de Jimi Hendrix e Carlos Santana, uma guitarra Fender de 115 dólares. Não foi um mau investimento, sabemos agora.
Aos 18 anos Mars muda-se para Los Angeles. A cor da pele nunca tinha sido uma questão até aí. Mas era-o para as editoras. "Que estação de rádio vai tocar isto?" Ou, no limite, lembra Mars, o que estava em causa era: "Quem vai comprar os teus álbuns? Pessoas negras ou pessoas brancas?"
Antes de cantar as suas canções - estrear-se-ia com o single Just the Way You Are - o músico compôs para Alexandra Burke, Travie McCoy, Adam Levine, Sean Kingston ou as Sugababes. As coisas mudaram quando compôs Billionaire para Travie McCoy e Nothin" On You para B.o.B., cantando com ambos. Lançar-se-ia então a solo, a caminho do sucesso que conhece hoje.
"Aqui somos soldados"
Música e política têm sido ciclicamente indissociáveis nos Estados Unidos, agora num novo ciclo depois da eleição de Donald Trump em 2016. Bruno Mars afirmou ao Standard não estar interessado em fazer canções políticas. "Não consigo escrever uma canção melhor do que aquelas que os meus heróis já escreveram, como Marvin Gaye com What"s Going On. Mas talvez possa escrever uma que junte toda a gente na pista de dança para escapar da realidade do que está a acontecer."
Sobre a fiel banda, os Hooligans (cujo baterista é o irmão Eric Hernandez, ex-polícia), afirma: "Todos queremos ser os melhores. Eles são uma unidade e preocupam-se muito. Aqui somos soldados."
Antes de entrar em palco, além dos vídeojogos, costuma haver uma oração, disse ainda o músico ao Standard: "Para que o público esteja a salvo, para que nós estejamos a salvo e para nos dar força para dar a esta gente uma noite que nunca esquecerão." Assim seja.