Zorrinho diz-se perplexo com apoio de Rio e Rangel ao alemão Weber
Manfred Weber, eurodeputado alemão da CSU, congénere bávara da CDU de Angela Merkel, foi eleito candidato do Partido Popular Europeu (PPE) à presidência da Comissão Europeia no congresso do grupo político em Helsínquia. A votação decorreu esta quinta-feira e, embora o voto tenha sido secreto, alguns dirigentes nacionais tornaram público o seu apoio a Weber, Foi o caso de Rui Rio e Paulo Rangel, presidente e eurodeputado do PSD, respetivamente.
A escolha da direita europeia foi de imediato criticada pelo eurodeputado do PS Carlos Zorrinho. Em seu entender, o alemão é um "um péssimo candidato", para a Europa e também "para Portugal", nomeadamente por, há dois anos, em plena crise, ter sido um defensor da aplicação de sanções a Portugal
"Manfred Weber é o mesmo homem que a 2 de maio de 2016 exigiu a Jean-Claude Juncker a aplicação de sanções a Portugal, para impedir o nosso caminho de recuperação e de consolidação", lamentou o socialista, vincando que a sua "boa memória", o recorda que "na altura Paulo Rangel ficou perplexo com essa decisão de Manfred Weber".
"Mas hoje sou eu que estou perplexo, porque Rui Rio e Paulo Rangel estiveram ao lado de Manfred Weber, nesta eleição", disse o socialista, referindo-se à nomeação do candidato a potencial presidente da Comissão Europeia, por aquela que é atualmente a maior família política no Parlamento Europeu.
A nomeação ficou concluída esta quinta-feira, na capital da Finlândia, tendo o politico da Baviera, de 46 anos, sido escolhido com 79,5% dos votos, em 619 sufrágios expressos, houve ainda dois votos nulos. Ou seja, Weber venceu com 492 votos, contra os 127 do ex-primeiro-ministro e ex-ministro das Finanças finlandês Alexander Stubb.
"Os portugueses ficam a saber uma coisa muito clara: votar no PSD e no CDS-PP, nas eleições europeias [de maio], é votar para um presidente da Comissão Europeia que é contra a afirmação de Portugal no contexto europeu, é a favor da retoma da austeridade e contra o crescimento", criticou Zorrinho, em declarações ao DN.
Como alternativa, Carlos Zorrinho propõe Franz Timmermans, atual primeiro vice-presidente da Comissão. O socialista holandês foi hoje criticado por Paulo Rangel, em Helsínquia, que o classificou como "o testa de ferro" de Jeroen Dijsselbloem, antecessor do ministro das Finanças português Mário Centeno como presidente do Eurogrupo. Zorrinho não podia estar mais em desacordo, nomeadamente por já ter "confrontado" Timmermans, instando-o a pronunciar-se sobre as afirmações que Dijsselbloem fez no passado relativamente aos chamados países do sul.
Recorde-se que, em março de 2017, o antigo presidente do Eurogrupo, holandês, foi amplamente criticado depois de fazer declarações controversas sobre "mulheres e copos", referindo-se à gestão das finanças públicas nos chamado "países do sul", como por exemplo a Grécia e Portugal.
"Na crise do euro, os países do norte da Zona Euro mostraram-se solidários para com os países em crise. Como social-democrata, considero a solidariedade da maior importância. Porém, quem a exige também tem obrigações. Eu não posso gastar o meu dinheiro todo em aguardente e mulheres e pedir-lhe de seguida a sua ajuda. Este princípio é válido a nível pessoal, local, nacional e até a nível europeu", afirmou, na altura, numa entrevista ao alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.
O holandês viria depois a retratar-se, até perante os ministros da Zona Euro, lamentando que a "escolha de palavras tenha perturbado e insultado as pessoas, porque nunca foi a intenção insultar pessoas".
Na reunião do grupo dos Socialistas e Democratas, que teve lugar esta semana, no Parlamento Europeu, Carlos Zorrinho garante que confrontou Frans Timmermans "exatamente com as declarações do seu colega de partido e ele demarcou-se completamente dessas declarações, além de se ter comprometido a, se for eleito presidente da Comissão, bater-se pelo orçamento de convergência da União Europeia e pela conclusão da reforma do euro", considerando que esta será "a melhor forma de reduzir assimetrias na União Europeia".
Por essa razão considera que ao classificar Frans Timmermans como o "testa de ferro" de Jeroen Dijsselbloem, Paulo Rangel está apenas a "atirar areia para os olhos dos portugueses, para que não reparem que, ele sim [Rangel], está a ser testa de ferro de Manfred Weber, que é um péssimo candidato, para Portugal e para a Europa".
Os Socialistas e Democratas, o segundo maior grupo político no Parlamento Europeu, vão escolher o seu candidato, que será eleito a 1 de dezembro e aclamado a 7 e 8 de dezembro, no congresso do grupo, em Lisboa.
Neste momento, o único candidato dos socialistas à sucessão do luxemburguês Jean-Claude Juncker é, precisamente, o atual primeiro vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans.
Há ainda que contar, para já, também com a candidatura, pelos liberais do ALDE, do ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, um grande federalista e, atualmente, o negociador do Parlamento Europeu para o brexit.