Zelensky na ONU pede "punição justa" da Rússia. "Esta é uma guerra pela vida"

O presidente ucraniano dirigiu-se à Assembleia das Nações Unidas, após Putin anunciar a mobilização de 300 mil mil reservistas para um conflito que já dura há mais de meio ano. "A Ucrânia quer a paz. A Europa quer a paz. O mundo quer a paz. Vimos quem é o único que quer a guerra", disse Zelensky.
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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, exigiu esta quarta-feira uma "punição justa" contra a Rússia no discurso, por videoconferência, na Assembleia Geral das Nações Unidas, horas depois do presidente russo, Vladimir Putin, anunciar uma mobilização militar de 300 mil reservistas para a guerra na Ucrânia.

"Um crime foi cometido contra a Ucrânia e exigimos uma punição justa", disse Zelensky, o único líder autorizado a dirigir-se, por videoconferência, à Assembleia Geral da ONU, que decorre na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Um "crime foi cometido contra as fronteiras do nosso Estado. Um crime foi cometido contra a vida do nosso povo", afirmou.

A punição contra Moscovo, continuou, deve permanecer "até que as fronteiras internacionalmente reconhecidas sejam restauradas."

Volodymyr Zelenski afirmou que a decisão russa de mobilizar reservistas demonstra que Moscovo está longe de pensar em negociações para pôr fim aos quase sete meses de guerra.

Insistiu que a Ucrânia irá sair vencedora na guerra contra a Rússia e que vai obrigar os soldados russos a deixar o país.

"Podemos voltar a hastear a bandeira ucraniana em todo o nosso território. Podemos fazer isso com a força das armas. Mas precisamos de tempo", disse aos líderes mundiais o presidente ucraniano, trajando a habitual camisola verde.

Zelensky defendeu que Moscovo está a preparar as suas tropas para uma nova invasão no inverno e a preparar fortificações enquanto mobiliza mais tropas no maior conflito militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

"A Rússia quer guerra. É verdade. Mas a Rússia não será capaz de parar o curso da história", disse Zelensky, acrescentando que "a humanidade e a lei internacional são mais fortes" do que o que considerou ser um "Estado terrorista".

"A Ucrânia quer a paz. A Europa quer a paz. O mundo quer a paz. Vimos quem é o único que quer a guerra", afirmou na 77ª sessão da Assembleia das Nações Unidas. Há apenas uma entidade entre todos os estados-membros que poderia dizer, caso pudesse interromper o meu discurso, que está feliz com esta guerra, com a sua guerra", acrescentou.

Zelensky defendeu mais restrições contra a Rússia, tendo declarado que "esta é uma guerra pela vida", tendo referido a necessidade de um tribunal especial para responsabilizar a Rússia pelos seus crimes numa guerra que já dura há mais de meio ano.

Disse também que não foi a Ucrânia que provocou esta guerra, mas que não tiveram alternativa que não fosse defender as suas vidas perante a invasão russa, em curso desde 24 de fevereiro. "Devemos proteger a vida. O mundo deve proteger a vida", destacou.

Perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, e estabelecendo várias "pré-condições para a paz", o chefe de Estado pediu "garantias de segurança", referindo-se às tentativas de Moscovo de atacar centrais nucleares em território ucraniano. Ninguém irá encontrar uma "vacina contra a radiação", alertou.

Afirmou ser necessário um fundo para compensar os danos que os ucranianos têm sofrido durante a invasão e pediu ainda que as Nações Unidas devem retirar o direito de veto da Rússia no Conselho de Segurança, afirmando ainda que seja retirado a Moscovo o voto nas instituições internacionais. Em ocasiões anteriores, a Ucrânia argumentou que Moscovo mantém um assento na ONU que pertencia à antiga União Soviética e não à Rússia.

Considerou que "se o agressor estiver envolvido na tomada de decisão das organizações internacionais, deve ser retirado dessas organizações."

Para Zelensky, "a neutralidade" não é a fórmula para alcançar a paz. "A nossa fórmula é universal, une o Norte e o Sul, representa os que não são ouvidos".

Uma das condições para paz é, por isso, a "restauração da segurança e integridade territorial" da Ucrânia, apontou.

Ainda no que se refere às conversações de paz com Moscovo, Zelensky afirma que os russos "falam sobre as negociações, mas anunciam a mobilização militar". "Falam sobre as negociações, mas anunciam pseudo-referendos", acrescentou.

Na reta final do seu discurso, afirmou que a Ucrânia está "pronta para a paz", mas não a qualquer preço, defendendo uma "paz verdadeira, honesta e justa."

Terminou o discurso, de cerca de 15 minutos, com "Slava Ukraini" ("Glória à Ucrânia", em português), ouvindo-se depois um longo aplauso na Assembleia Geral das Nações Unidas.

A Rússia ainda não falou na Assembleia Geral da ONU, estando previsto que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, discurse no próximo sábado.

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