Zapatero enfrenta a tempestade quase perfeita

Primeiro-ministro está sob pressão dos mercados para lançar reformas que os eleitores socialistas contestam com abstenção.
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Pressionado pelos mercados internacionais para fazer reformas altamente impopulares, o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, enfrenta ao mesmo tempo uma rebelião eleitoral dos seus apoiantes. A derrota dos socialistas na Catalunha, no domingo, deu novo fôlego à oposição conservadora (PP) e até às eleições de 2012 restam pouco mais de 18 meses para reduzir o desemprego, acalmar os mercados e regressar ao crescimento.

O Partido Socialista Catalão (PSC) teve o pior resultado da sua história (18%, com 28 eleitos) e apesar dos esforços do líder, José Montilla, de assumir toda a responsabilidade, o facto é que a imprensa em Espanha fazia ontem a leitura nacional das eleições catalãs.

Montilla não deverá assumir o seu lugar de deputado e admitiu numa entrevista que cometeu erros. "Sou o maior responsável" pela derrota, explicou o presidente cessante do governo regional. "Tudo apontava para a tempestade perfeita: a crise económica, os erros próprios. Tudo de somou", disse Montilla, que se recusou a culpar Zapatero: "Seria errado culpar terceiros." Mas, para o PSC, a abstenção dos socialistas determinou o resultado.

A vitória sorriu à Convergência e União (CiU), formação nacionalista de centro-direita. O líder da CiU, Artur Mas, assumirá a chefia do governo regional (Generalitat) e inicia hoje os contactos com os partidos. Tem 62 eleitos e precisa de mais seis votos, com duas opções: os ecologistas do ICV, que faziam parte da Tripartida, a anterior coligação no poder (com socialistas e republicanos); ou aproximação ao PP, em terceiro lugar e ligeiro crescimento (12%, 18 eleitos).

Estes números deixaram os populares em estado de euforia. O líder do partido, Mariano Rajoy, explicou que isso equivalia ao fracasso das políticas do Governo e sublinhou que era o melhor resultado na história do seu partido, bem como o pior da história do PSOE. Rajoy insistiu na ideia de que teria existido transferência de votos dos socialistas para os populares. Em toda a Espanha, o PP lidera as sondagens 12 a 15 pontos à frente do PSOE, bem acima dos 40%.

Mas também é evidente que a CiU no poder na Catalunha não pode contrariar algumas reformas de Zapatero que o PP contesta mas que os mercados internacionais exigem. O cenário mais provável será de acordo parlamentar em que o PP catalão se abstém em certas decisões que os populares recusam.

As eleições catalãs também registaram uma surpresa, a votação da coligação Solidariedade Catalã e Independência (SI), liderada pelo antigo presidente do FC Barcelona, Joan Laporta. Com quatro eleitos, este grupo independentista deverá crescer no futuro. Mas isso será no ciclo seguinte, já que no actual é a crise financeira que atrai as atenções. Os juros da dívida espanhola estão a subir devido à desconfiança dos mercados em relação à solidez das reformas de Zapatero. Ontem, os dois maiores sindicatos lançaram mais achas para a fogueira desta tempestade quase perfeita, ao obrigarem o parlamento de Madrid a discutir uma emenda à reforma do mercado de trabalho.

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