"Yes we Khan". Londres celebra 'mayor' muçulmano

Trabalhista Sadiq Khan derrotou conservador Zac Goldsmith na corrida à capital. Perdas para o Labour não foram tão grandes como as previstas, apesar do desaire na Escócia
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"Envio os parabéns ao novo presidente da câmara de Londres e companheiro na luta por casas a preços acessíveis. Ansioso por trabalharmos juntos", escreveu no Twitter o mayor de Nova Iorque, o democrata Bill de Blasio. "Parabéns pela tua excelente vitória em Londres. Fico à espera de te receber em França", foi a mensagem do primeiro-ministro francês, o socialista Manuel Valls, na rede social. Mas muitos internautas limitaram-se a escrever "Yes we Khan", fazendo uma analogia entre o slogan "Yes we can" (sim, nós podemos) que levou Barack Obama até à Casa Branca e o nome do vencedor, Sadiq Khan, que será o primeiro muçulmano à frente de uma capital da Europa Ocidental.

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Até o líder do Labour, Jeremy Corbyn, usou o hashtag #YesWeKhan

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Ao fim da primeira contagem, Khan tinha 44,2% e uma diferença de quase 240 mil votos para o adversário, o conservador Zac Goldsmith, que tinha 35%. Como nenhum dos dois conseguiu 50%, tinham que ser contabilizadas as segundas escolhas dos eleitores (no momento do voto, na quinta-feira, indicaram dois nomes). A contagem prolongou-se pela noite fora e atrasou-se por "pequenas discrepâncias". Só depois de uma declaração de vitória (prevista para depois da meia-noite) é que o vencedor ia falar. A participação rondava os 45,3%, muito mais do que a de 37,4% registada em 2012, aquando da reeleição do conservador Boris Johnson. Este abdicou de concorrer a um terceiro mandato, apostando na corrida para suceder a David Cameron à frente dos Tories e do governo.

Peregrinação a Meca

Sadiq Khan, de 45 anos, é o quinto de oito filhos de um casal de imigrantes paquistaneses (o pai era motorista de autocarros e a mãe costureira) e cresceu num bairro social em Tooting, no sul de Londres. Em 2005, o antigo advogado de Direitos Humanos foi eleito deputado pela circunscrição em que nasceu e, três anos depois, tornou-se ministro dos Transportes de Gordon Brown - sendo o primeiro muçulmano nos conselhos de ministros.

Khan é casado com Saadiya, também advogada. O casal tem dois filhos. Em 2009, fez uma peregrinação a Meca, o local mais sagrado do islão. Na campanha estabeleceu como prioridade a questão da habitação - o tema que mais preocupa os londrinos - prometendo que metade das casas que vierem a ser construídas terão preços acessíveis. No partido conservador, muitos alegam que a derrota de Zac Goldsmith se deveu à campanha difamatória que este empreendeu, quando acusou o adversário de favorecer os "extremistas" islâmicos.

A vitória de Khan acabou por ser o melhor momento para o Labour, que não sofreu uma derrota tão grande como a esperada - a exceção foi a Escócia. Nas eleições locais inglesas, onde se previa que os trabalhistas podiam perder até 150 representantes além de condados chave, as perdas foram muito inferiores (ainda não estavam ontem todas contabilizadas e eram semelhantes aos dos conservadores) e no final a percentagem de voto até poderá ser maior do que há cinco anos. As grandes conquistas couberam aos Liberais Democratas e aos independentistas do UKIP (mais 26).

Os críticos de Jeremy Corbyn esperavam uma maior derrapagem do Labour para poderem questionar a sua liderança. "Vou continuar. Não se preocupem com isso. Vou continuar. Estou muito feliz", afirmou o líder trabalhista, que muitos acusam de ter levado o partido para a esquerda e de não ser capaz de liderar o Labour até à vitória nas legislativas previstas para 2020.

Derrota histórica na Escócia

Os críticos de Corbyn tiveram de se contentar apenas com o desaire histórico na Escócia. Nas eleições para o Parlamento escocês, os conservadores tornaram-se na segunda força política, elegendo 31 representantes (mais 16 do que em 2011) e batendo o Labour que teve o pior resultado de sempre (24 eleitos).

Cameron falou num "realinhamento a norte da fronteira" e a líder dos conservadores escoceses, Ruth Davidson, defendeu que as hipóteses de um novo referendo sobre a independência ficaram "totalmente destruídas". Já Corbyn admitiu que os trabalhistas "têm ainda muito a fazer" na Escócia.

A Partido Nacionalista Escocês, de Nicola Sturgeon, venceu as terceiras parlamentares consecutivas, apesar de ter perdido a maioria absoluta - elegeu 63 representantes, menos seis do que em 2011. A primeira ministra escocesa diz contudo que o resultado foi "enfático" e que ganhou "um mandato claro e inequívoco". Sturgeon indicou que vai procurar liderar um governo de minoria. "Com um número tão grande de deputados , não pretendo procurar um acordo formal com qualquer outro partido", explicou.

No País de Gales, o Labour (29 eleitos) manteve-se como o mais votado, tendo perdido só um representante na Assembleia Nacional para os nacionalistas galeses. O Plaid Cymru (12) ultrapassou os conservadores (11 eleitos, menos três) e tornou-se no segundo partido mais votado. O grande destaque vai contudo para o UKIP, que passa de zero para sete deputados no parlamento galês. Já os Liberais Democratas perderam quatro e ficaram apenas com um representante, tendo a líder regional do partido, Kirsty Williams, entregue a demissão.

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