Xi Jinping avisa Biden para não brincar com o fogo
O presidente chinês, Xi Jinping, avisou esta quinta-feira o homólogo norte-americano, Joe Biden, para o risco de brincar com o fogo no que diz respeito a Taiwan. O aviso surge numa altura em que Pequim tem subido de tom nas ameaças em resposta à eventual visita da líder da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha. E quando os analistas dizem que a China não mudou o seu plano de conseguir a reunificação, não excluindo usar a força, apesar de estar a retirar lições das dificuldades que a Rússia tem enfrentado na Ucrânia.
"Aqueles que brincam com o fogo, morrem pelo fogo", terá dito Xi Jinping a Biden, segundo a versão em inglês do comunicado oficial de Pequim sobre o telefonema de duas horas e 17 minutos entre ambos. Uma conversa que foi "sincera e profunda". Xi defendeu ainda que "os EUA devem honrar a política da China única". De acordo com o mesmo documento, Biden reiterou que os EUA "não mudaram, nem vão mudar" essa política e que Washington "não apoia a independência de Taiwan".
Segundo a versão da Casa Branca, Biden ressaltou precisamente que não houve uma mudança de política da parte dos EUA que "se opõem fortemente a esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e estabilidade no estreito de Taiwan". Um recado aos eventuais planos chineses de avançar para a reunificação pela força (um cenário que não é excluído). A China vê a ilha como fazendo parte do seu território, defendendo uma reunificação, se for preciso, pela força. O chefe da CIA, Bill Burns, disse na semana passada que Xi parece comprometido nessa opção, apesar das lições retiradas na Ucrânia. "Eu não subestimaria a determinação do presidente Xi de afirmar o controlo da China" sobre Taiwan, afirmou.
O quinto telefonema de Biden com Xi desde que chegou à Casa Branca (o último tinha sido em março) surge numa altura em que Pelosi planeia uma visita à ilha - seria a mais alta responsável dos EUA a fazer a viagem em 25 anos. A China critica o que vê como um incentivo à independência, tendo alertando que poderá recorrer a "medidas enérgicas", incluindo ação militar, caso ela não cancele os seus planos.
Na conversa com Biden, Xi indicou que "diante de um mundo de mudança e desordem, a comunidade internacional espera que a China e os EUA assumam a liderança na defesa da paz e da segurança mundiais e na promoção do desenvolvimento e prosperidade globais". O presidente chinês terá também criticado o facto de Washington ver Pequim como "o maior desafio a longo prazo", defendendo a necessidade de manter comunicações a todos os níveis, nomeadamente em matéria económica.
Segundo a Casa Branca, o telefonema de Biden com Xi Jinping faz parte dos esforços da Administração de "gerir responsavelmente as nossas diferenças e trabalhar juntos onde os nossos interesses se alinham". Nesse sentido, foram discutidos uma série de temas importantes para a relação bilateral, além de temas globais e regionais (não foram especificados quais), com as respetivas equipas a serem encarregadas de continuar a discutir, "em particular na resposta às alterações climáticas e segurança sanitária".
susana.f.salvador@dn.pt