O Sporting defronta amanhã o Manchester City, agora nos oitavos da Champions, e é inevitável falar do golo de calcanhar que marcou aos ingleses em 2012..Foi um jogo memorável que ficou marcado na minha carreira, pela minha atuação e da equipa, pelo golo e pela vitória. E ficou na memória dos adeptos sportinguistas..Ainda se lembra bem do golo? Consegue descrevê-lo?.Claro. Quando o Matias Fernández se preparava para bater a falta, eu posicionei-me atrás do último defesa do City. Reparei que ele não me estava a marcar homem a homem, mas à zona e esperei que a bola lá chegasse. Se a bola fosse na direção da baliza, mas não entrasse direta, eu estaria pronto para fazer a recarga. Na minha primeira tentativa, o Joe Hart defendeu muito bem, mas tive uma segunda chance e a única alternativa era dar de calcanhar, não tinha tempo para mais. Arrisquei e Graças a Deus deu certo..YouTubeyoutubePdM8dx09q1I.Na altura o Manchester City já era uma potência. Acreditavam que era possível vencê-los?.Lembro-me que na semana anterior o mister Sá Pinto conseguiu extrair o máximo mentalmente de todos os jogadores, utilizando declarações de atletas e elementos da equipa técnica do Manchester City. Principalmente umas declarações do Dzeko, em que ele disse que não conhecia nenhum jogador do Sporting. Isso mexeu muito com o nosso brio e foi o combustível que precisávamos. Entrámos em campo ainda com mais ambição..Na segunda mão, no último lance do jogo, o guarda-redes Joe Hart quase fez o 4-2, o que teria significado a eliminação do Sporting. Recorda-se desse momento?.Como se fosse hoje. Ficámos todos apreensivos. A sorte naquele dia acompanhou-nos, mas foi por pouco que não fomos eliminados..Como foi a festa depois do final dessa eliminatória?.A festa foi das mais lindas que vivi na minha carreira, primeiro no balneário, mas principalmente quando chegámos a Lisboa. A receção foi incrível e autocarro que nos foi buscar ao aeroporto foi cercado pelos adeptos, que o começaram a empurrar, a quererem entrar. Ainda hoje lembro-me desse episódio com muita emoção e com muito carinho pelos adeptos..Vem a Portugal ver o jogo, certo?.Logo após o sorteio prometi a mim mesmo que estaria presente. Já comprei os bilhetes de avião, começo a viagem hoje (ontem) e chego a Lisboa amanhã (hoje). Não falei com ninguém da direção do Sporting, mas a Sporting TV entrou em contacto comigo e vou entrar em direto antes do jogo..Teve oportunidade de ver o clássico com o FC Porto? Como classifica aqueles momentos lamentáveis no final do jogo?.Assisti à parte final e nem acreditava no que estava a ver. Aquilo são cenas mais habituais no Brasil. Claro que em clássicos e dérbis a cabeça dos jogadores fica mais quente, mas foram atitudes indesculpáveis. Se tivesse acontecido aqui no Brasil, a torcida teria invadido o campo, ainda bem que os europeus são um pouco mais civilizados....Como recorda Sá Pinto, treinador do Sporting na eliminatória de 2012?.O mister era muito intenso em tudo, nas vitórias e nas derrotas, e sacava todas as emoções para nos transmitir. Acredito que isso fez toda a diferença a nosso favor. Antes do jogo com o City, em Alvalade, tínhamos perdido com o V. Setúbal, com uma falha minha no lance do único golo. Fui-me abaixo com esse erro e cheguei ao balneário desolado e a pensar que não iria ser titular no jogo mais importante da minha carreira. O mister reuniu-nos na Academia e na frente de todos garantiu que eu era o único titular garantido. Aquela atitude do Sá Pinto fez-me "sacar" tudo de mim e acabei por marcar o golo da vitória contra o City..Que conselhos dá a atual equipa do Sporting para tentarem escrever a mesma história?.O City está melhor do que em 2012, mas o atual plantel do Sporting também é superior. O ponto essencial será a concentração. Em toda a minha carreira não me recordo de um jogo em que tivesse entrado tão concentrado como aquele diante do City. Se os jogadores entrarem com toda essa concentração e acreditarem em todas as bolas, é possível surpreenderem e ganharem em casa, que seria o passo principal, tentado depois preservar a vantagem em Manchester..Como recorda a sua passagem pelo Sporting?.Vivi muitos momentos marcantes. Foi a minha primeira experiência na Europa, com 22 anos, e a forma como fui recebido por todos marcou-me. Adaptei-me rapidamente ao futebol europeu e consegui estar à altura. A estrutura do Sporting, com uma Academia espetacular, é das melhores que conheci. Foi um privilégio e uma honra..Só faltou o título de campeão....Sim, naquele tempo já esperávamos há muito pelo título, a última vez tinha sido com o Jardel [dez anos antes]. Não conseguimos, pois não foi uma época muito boa no campeonato. Chegámos à final da Taça de Portugal, mas não conquistámos o troféu [derrota com a Académica]. Mas não guardo mágoa por não ter ganho troféus no Sporting e fiquei muito feliz pelo título da época passada. Aliás, estive muito perto de ir a Portugal, pois queria muito ver a festa no Marquês de Pombal. Na minha época já se falava muito disso..Continua a acompanhar o Sporting?.Sim, mas não com tanta ênfase, pois estou a viver em Campinas, nos arredores de São Paulo, e tenho dedicado mais atenção aos campeonatos brasileiros. Porém, sempre que possível tenho acompanhar..Como foi a sua carreira depois de ter saído de Alvalade?.Joguei quatro anos na Rússia [Ruban Krasnodar e do FC Anzhi], depois estive uma temporada em Espanha [no Sp. Gijón], passei pela Bélgica [Cercle Brugge] e em 2018 regressei ao Brasil [Red Bull Brasil e Guarani]. Por fim, em 2019, estive na Indonésia e foi o último ano em que joguei, com 32 anos. Entretanto a minha mulher teve uma gravidez muito difícil e a minha filha nasceu prematura em 2020, felizmente recuperou muito bem. Depois, veio a pandemia, o mercado do futebol parou e eu deixei de jogar. Em breve vou anunciar oficialmente o fim da carreira. Vamos ver como vai ser o meu futuro pós-futebol....dnot@dn.pt