"Nós éramos tão novos! O que é interessante é que eu sabia disso naquela altura. Eu era tão inexperiente quão a Scully. Não me sentia adulta no meu corpo." Gillian Anderson tinha apenas 24 anos quando foi escolhida por Chris Carter para ser Dana Scully, a agente especial do FBI em Ficheiros Secretos. Estávamos em 1992. 23 anos depois, a atriz reencontrou-se com a personagem que a tornou mundialmente reconhecida..Numa entrevista intimista à New York Magazine, a menos de um mês da estreia da nova minissérie de Ficheiros Secretos (agendada para 24 de janeiro nos EUA e, dois dias depois, em Portugal), Gillian Anderson reflete sobre as mudanças que aconteceram na sua vida, profissional e pessoal, e que a reconduziram a Scully..Uma das principais dificuldades que a atriz, agora com 47 anos, enfrentou foi a modulação da sua voz que, em 1992, era muito mais aguda. "Eu tinha uma ideia dela que ficou cristalizada nos primeiros episódios da série. Por isso, tive de tirar da cabeça a impressão de que não éramos parecidas, porque esta é a versão crescida da Scully.".Anderson explica que tanto ela como Duchovny e Carter acharam, depois do segundo filme, que "a história precisava de ser encerrada de alguma forma". Mas, depois de 2008, perceberam que isso não aconteceria, pelo menos sob a forma de uma longa-metragem. No entanto, quando a febre das séries televisivas começou a tomar forma, os três perceberam que a verdade podia voltar a andar por aí....Para os apaixonados da série, parte do encanto da trama é a eterna dúvida em torno da natureza da relação entre Mulder e Scully... e a subsequente especulação sobre um possível envolvimento na vida real entre Gillian Anderson e David Duchovny. "Somos mais próximos agora do que alguma vez fomos", afirma a atriz norte-americana..Ao longo da década de 90, chegou a especular-se que a dupla se odiava nos bastidores da série. Agora, a atriz que dá vida a Dana Scully explica que nem ela nem David Duchovny tinham noção, durante esses anos, que eram os únicos a viver a experiência X Files. "Não acho que isso fosse suficientemente importante para nos aproximar.".A vida de Anderson pós-Ficheiros Secretos dividiu-se entre a construção de uma família, de uma carreira nos palcos e, mais recentemente, na televisão. Esteve, no ano passado, em cena no Young Vic, em Londres, como protagonista de Um Eléctrico Chamado Desejo (desempenho que lhe valeu o prémio de melhor atriz do Evening Standard Theatre Award), e é, desde 2013, protagonista da série da BBC, The Fall. Pelo meio, a filha de uma analista informática e de um produtor de televisão escreveu quatro livros: um manifesto feminista, WE: A Manifesto for Women Everywhere e Earthend Saga, trilogia de ficção científica, cujo terceiro volume é lançado em 2016..Gillian Anderson tem três filhos, Piper, de 21 anos, Oscar, de nove e Felix, de sete. E foram exatamente os filhos (Duchovny é pai de Madelaine, de 16 anos, e Kyd Miller, de 13) que perceberam que juntos valem mais do que sozinhos. "Acho que somos suficientemente adultos para entender que é do nosso mútuo interesse estarmos do mesmo lado e apoiarmo-nos um ao outro", afiança Anderson..À New York Magazine, a atriz deixa a dúvida no ar relativamente à concretização de Dana Scully, versão século XXI. "Fiz um esforço enorme, depois dos Ficheiros Secretos, para afastar a Scully o mais possível e conseguir criar personagens que não se parecessem com ela. É preciso esperar para ver se consegui fazer o caminho inverso, ou seja, deixar a Stella (protagonista de The Fall) e abraçar a Scully.".A ação dos seis episódios da nova minissérie de Ficheiros Secretos decorrem assumidamente num mundo pós-11 de Setembro, onde o terrorismo, o controlo de informação, a espionagem e o domínio das grandes corporações estão na ordem do dia. Na entrevista que concedeu à New York Magazine, Anderson dá a entender que estes novos episódios, em que as teorias da conspiração sobre experiências secretas feitas pelo governo estão mais presentes do que nunca, não seriam exequíveis durante os anos em que George W. Bush esteve no poder. "Não era aceitável falar sobre isso", afiança.