Watanabe, o mais recente samurai das piscinas

Ippei Watanabe é o primeiro a nadar abaixo dos 2:07 minutos nos 200 metros bruços, prolongando a tradição japonesa na prova
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Foi com Yoshiyuki Tsuruta que tudo começou. O segundo de 12 filhos de uma família de Kagoshima, nascido no início do século XX (1903), começou por ir trabalhar para os caminhos-de-ferro, mas em boa altura resolveu alistar-se na Marinha. Foi aí que desenvolveu as aptidões de excelente nadador que o levaram, em 1928, a sagrar-se como o pioneiro campeão olímpico da natação japonesa, iniciando uma tradição que no último domingo conheceu um novo protagonista: Ippei Watanabe, o mais recente recordista mundial dos 200 metros bruços.

Ao fazer o tempo de 2:06.67 minutos, em Tóquio, o jovem Watanabe, de 19 anos, tornou-se o primeiro homem a nadar a distância abaixo dos 2:07, superando a anterior melhor marca, que pertencia ao compatriota Akihiro Yamaguchi - 2:07.01, desde setembro de 2012. E fê-lo ao vencer a Taça Kosuke Kitajima, que tem precisamente o nome daquele que é considerado o melhor nadador da história do Japão: o homem que já neste século XXI reforçou o legado iniciado por Tsuruta ao sagrar-se duplo bicampeão olímpico, em Atenas 2004 e Pequim 2008, nos 100 e 200 metros bruços.

Watanabe, Yamaguchi, Kitajima, Tsuruta... a proliferação de nomes japoneses não acontece aqui por acaso. O estilo de bruços, e em especial a prova dos 200 metros, é o grande motivo de orgulho samurai na natação desde que Tsuruta se impôs na piscina de Amesterdão, em 1928, dando ao Japão o primeiro ouro olímpico na modalidade - e só não foi o primeiro campeão olímpico japonês porque dias antes, nesses Jogos, Mikio Oda conseguiu vencer a prova do triplo salto no atletismo.

Tsuruta repetiu o triunfo quatro anos mais tarde, em 1932, e durante 76 anos foi o único nadador bicampeão olímpico nesta prova. Em Pequim 2008, o seu feito foi finalmente igualado, e por outro japonês: Kosuke Kitajima, que dobrou o ouro também nos 100 metros. Entre Tsuruta e Kitajima, outros três nadadores nipónicos chegaram ao ouro olímpico em bruços: Hamuro, Furukawa e Taguchi (ver tabelas).

Ippei Watanabe, o mais recente samurai dos 200 m bruços, também já teve um primeiro momento de fama em Jogos Olímpicos. Em agosto passado, foi o mais rápido nas meias-finais da prova, no Rio 2016, com um novo recorde olímpico de 2:07.22 minutos. No entanto, na final, não conseguiu lidar com as expectativas e terminou em sexto.

Cinco meses depois, Watanabe confirma-se como o novo grande nome desta prova, o sexto japonês na lista dos recordistas mundiais dos 200 m bruços, com um tempo 38,33 segundos mais rápido do que o do pioneiro Yoshiyuki Tsuruta - eternizado com uma estátua na sua cidade natal - em 1929.

"Estou espantado. Não pensei que fosse bater o recorde", reagiu o novo recordista, com o foco virado para os mundiais de Budapeste, em julho. "Esse é o grande objetivo. Ser campeão do mundo. E poder continuar a bater alguns recordes", apontou o novo herdeiro de Tsuruta.

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