Waldemar Bastos estreia 'Renascence'

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Quando completou 50 anos, Waldemar Bastos desfez a longa ausência e voltou a Angola. Radicado em Portugal há três décadas, o músico pôs termo à diáspora no momento em que Luanda deu a guerra civil por terminada. Renascence, o seu novo trabalho, é uma espécie de celebração desse reencontro com a terra de cujas raízes nunca se separou. Um álbum que nos primeiros quatro meses de 2004 passeou pelo top europeu de world music - onde chegou a figurar em segundo -, e só há uma semana foi estreado em Portugal. E é ele o motivo maior do concerto que hoje (21.30) leva o angolano ao Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa.

O regresso a Angola seguiu um itinerário complicado. Gravado em Málaga, Berlim, Londres e Istambul, Renascence foi lançado por uma editora holandesa -World Circuit, a mesma por que gravam Marisa e Sara Tavares - e produzido por um jamaicano. Pergunta-se então se podemos dizer que é angolana uma música nascida desta geografia incerta. "É certamente música feita por um angolano", simplifica Waldemar Bastos em conversa com o DN. "Música que tem a estrutura e a alma angolana, pois todos os artistas têm os arquétipos da terra onde nascem. Mas também há nesta música muito da Europa e de todas as terras por onde viajei - e viajei por muitas -, na medida em que há um pouco de todo o meu caminho."

Renascence é colecção de dez temas atravessados por duas dezenas de músicos. Por aqui se cruzam percussões e vozes mestiças, metais britânicos e da Martinica, um rendilhado de guitarras acústicas e eléctricas de Angola e Moçambique, Congo e Guiné- -Bissau, Portugal e Guiné-Conacri. E ainda um septeto de cordas turcas. "É um encontro feliz entre cristãos e muçulmanos, africanos e europeus, gente que comigo encontrou afinidades musicais", sorri o angolano.

Estes temas são o ponto de partida para um espectáculo que quer ir mais além, "recuar no tempo e recuperar momentos de toda a carreira". Em Lisboa, Waldemar Bastos apresenta--se em formato acústico e simplificado, o que não permite tocar alguns dos temas deste álbum, embrulhados em arranjos elaborados. Em palco, haverá cinco músicos, "três violões e duas percussões que também são cinco vozes", num ambiente "intimista, como quem se dispõe ao redor de uma fogueira". Mas esta, garante Waldemar Bastos, é a formação suficiente para preservar o espírito deste Renascence e para apostar numa das "grandes riquezas deste trabalho, que é fazer renascer a musica de África numa dimensão de guitarras. Porque África tem uma estética muito própria no tratamento de guitarras, uma forma de tocar que permite ter várias guitarras a solar ao mesmo tempo sem que elas se cruzem ou atropelem". E é também com esta formação que o músico pretende revisitar o repertório semeado desde a estreia no Brasil, em inícios dos anos 80, com o álbum Estamos Juntos.

De Renascence, ouvir-se-ão as "músicas de paz e reconciliação", que são matéria-prima de eleição deste disco - Outro Tempo Novo, Esperança ou Paz, Pão e Amor são títulos que não disfarçam a vontade de intervir num país em construção. Porque, "atendendo ao meu percurso de vida e às referências que a minha gente deposita em mim, a minha obrigação é patrocinar a concórdia". E é isso que o empurra para "o regresso físico e definitivo" à terra natal. Quando? "Muito em breve. Na verdade, eu já lá estou."

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