"Voltei à seleção para conquistar o título que me faltava"

ENTREVISTA A REINALDO VENTURA. Entre os novos campeões europeus, era o único o elo de ligação ao último grande título internacional que tinha sido conquistado pela seleção de hóquei (o Mundial de 2003). Aos 38 anos, resolveu voltar a vestir a camisola das quinas. Em boa hora, para ajudar a acabar com um longo jejum
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Há 18 anos que Portugal não era campeão europeu de hóquei em patins. O que representou para vocês quebrar esse enguiço?
Foi uma felicidade tremenda. Há muitos anos que perseguíamos este título. Ao longo destes anos fugiu-nos várias vezes por entre os dedos, outras vezes de forma mais clara. Finalmente chegou a nossa hora. Tal como os italianos, tivemos algum azar porque apanhámos uma geração espanhola muito forte, que dominou a modalidade. Felizmente esta nossa nova geração pode ser tão boa ou melhor do que essa.

Estamos perante uma nova geração dourada do hóquei português?
Espero bem que sim. Estamos perante um lote de jogadores de grande qualidade, tanto a nível atlético como a nível humano. Na minha opinião, isso já é meio caminho andado. Claro que as diferenças nunca serão tão grandes, porque as equipas estão cada vez mais bem preparadas. Mas estou certo de que esta geração vai ganhar muitos campeonatos para Portugal.

Isto de ser campeão europeu virou moda...
É verdade. Foi muito importante termos sido campeões europeus logo após a seleção de futebol o ter conseguido. O país parou para ver a final. Nós próprios assistimos todos juntos no hotel e vibrámos muito com essa vitória. Além de nos ter deixado muito felizes, trouxe-nos mais visibilidade. Foi muito positivo. Temos a melhor liga do mundo e há que aproveitar o investimento que tem vindo a ser feito. Este título apareceu na melhor altura.

Sente que ajudaram também a impulsionar a autoestima dos portugueses neste verão de êxitos desportivos?
É uma daquelas alegrias que não influencia o bolso mas estimula a mente. Notei logo isso no primeiro contacto com as pessoas, a forma como me abordam, sorriem e dão-me os parabéns. Faz bem ao ego.

Depois de uma prova quase perfeita, chegaram ao intervalo da final a perder por 2-0 diante da Itália. Nunca pensaram na final do Europeu perdida em 2008?
Nunca. Em momento algum isso nos passou pela cabeça. Sabíamos bem o que fazer para derrotar a Itália e continuámos com a mesma estratégia depois do intervalo. Combinámos manter um ritmo intenso, pois sabíamos que a Itália, que utilizou quase sempre os mesmos cinco jogadores, acabaria por ceder. Nunca tínhamos estado a perder na competição, mas nem por isso deixámos de acreditar em nós. Agarrámo-nos uns aos outros e demos uma prova da nossa superioridade. Não ficaram dúvidas de quem foi a melhor equipa em prova. Fizemos um grande Europeu, como há muito não se via.

Há quatro anos anunciou a sua retirada da seleção. O que o fez voltar?
Foi um conjunto de fatores. Na altura, decidi abandonar para me dedicar exclusivamente ao meu clube e dar a outros a oportunidade de tentarem ser o que eu nunca tinha sido: campeões europeus. A certa altura apercebi-me de que talvez não tivesse tomado a melhor decisão... Arrependi-me de o ter feito. Por isso, quando o [Luís] Sénica me ligou não hesitei. Voltei para conquistar o título que me faltava.

Vamos poder vê-lo no Mundial do próximo ano?
Ainda é demasiado cedo para pensar nisso. Este título ainda está muito fresco na memória para me preocupar com essa questão. Tenho noção de que não posso ser convocado pelo nome que tenho na modalidade, independentemente da minha idade. Por isso, terei de mostrar o meu valor durante a época. No final da temporada, se essa for a vontade do selecionador, logo veremos. Mas tenho de me sentir bem para poder dar o meu contributo à seleção.

Portanto, tão cedo não vai voltar a anunciar o adeus à seleção?
Desta vez não arrisco. Cometi esse erro uma vez, não volto a cair na mesma...
Está com 38 anos. Até que idade planeia continuar a jogar?
Não faço ideia... Enquanto me sentir capaz e achar que posso ser útil à minha equipa e à seleção, hei de continuar a jogar hóquei. No dia em que sentir que não sou capaz de acrescentar qualidade, serei o primeiro a dizer que é hora de terminar a carreira. Por agora, não penso nisso.

Também ganhou a Taça CERS pelo Óquei de Barcelos. A nível pessoal, foi uma época em cheio?
Foi uma época bastante positiva a título pessoal. Depois de um ano muito complicado, consegui voltar a ser feliz a jogar hóquei. Queria muito mostrar que a decisão de continuar a jogar tinha sido acertada. Senti que era capaz, apesar da minha idade. Muitos olham para a idade como um impedimento... Eu encontrei nisso uma capacidade de superação ainda maior para atingir os meus objetivos. Senti a necessidade de provar isso.

A experiência é mais uma vantagem do que um handicap...
Claro. Sou um jogador completamente diferente do que era aos 20 anos. Naturalmente, agora tenho muito mais experiência e isso faz a diferença. Antigamente corria muito e fazia tudo mal. Agora, se calhar, é ao contrário...

Hoje vão ser recebidos por Marcelo Rebelo de Sousa. Já sabe o que vai dizer ao Presidente?
Se tivermos a possibilidade de conversar, vou apenas dizer-lhe que é um prazer estar ali e partilhar a nossa alegria com ele.

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