O pelotão da 83.ª Volta a Portugal vai hoje para a estrada, ainda entorpecido pelas buscas da Polícia Judiciária, realizadas anteontem, e ao afastamento de mais ciclistas ligados às suspeitas de doping que levou a União Ciclista Internacional a retirar a licença de competição à W52-FC Porto. A prova rainha do ciclismo nacional, que se realiza desde 1927, tem arranque marcado para as 15.21 horas, com um prólogo de apenas 5,4 quilómetros, com partida e chegada à Praça do Império, em Lisboa, após a qual se ficará a saber o primeiro camisola amarela da prova..A Podium, empresa organizadora da prova, garantia ontem estar "concentrada em colocar a prova na estrada", lembrando, em comunicado, que a Volta nunca esteve em perigo, uma vez que a organização "age" com base "em decisões e resoluções das entidades que superintendem a justiça desportiva"..A empresa liderada por Joaquim Gomes defendia que "ainda que alguns corredores e uma equipa tenham sido, entretanto, visados por essas decisões, estas incidem exclusivamente sobre si próprios e sobre a sua atividade desportiva". Por isso, prometia honrar "o compromisso com aqueles que nada tem a ver com esses casos e que se mantém incólumes na forma como praticam o seu desporto de eleição que também é a sua atividade profissional e sustento financeiro". E acreditando que "durante quase duas semanas, como sempre acontece no verão, o país continuará a viver de forma apaixonada e debruçado sobre a estrada as intrépidas aventuras dos heróis de bicicleta"..Na memória de todos estão ainda as buscas realizadas pela PJ a dois dias do início da Volta "em locais ligados a equipas de ciclismo", no âmbito da operação Prova Limpa, a cargo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto, tendo como objetivo principal "a recolha de prova documental"..Entre os ciclistas cuja casa foi alvo de buscas está Francisco Campos, entretanto despedido pela equipa Efapel. O ciclista confirmou a condição de arguido, mas desmentiu ter assumido perante o diretor desportivo da Efapel uma violação do regulamento interno da equipa, garantindo estar "limpo de qualquer substância ilícita" e de "consciência tranquila". "O diretor desportivo da Efapel, José Azevedo, mencionou que não cumpri o regulamento interno da equipa e que confessei não o ter cumprido. Fui, de facto, um dos elementos alvo de rusga por parte da Polícia Judiciária e fui constituído arguido, no entanto, desminto que tenha confessado que comuniquei ao diretor Azevedo que não cumpri o regulamento interno. Nenhum elemento das rusgas encontrou qualquer tipo de substância ilícita em minha casa, porque não as utilizo, nem nunca utilizei", esclareceu o corredor de 24 anos, em comunicado enviado à agência Lusa..Também Daniel Freitas foi alvo de buscas e posteriormente afastado da Volta a Portugal pela Rádio Popular-Paredes-Boavista. A equipa Glassdrive-Q8-Anicolor está entre alvos da operação da PJ, mas recusou revelar os atletas envolvidos. Contudo, ontem, Luís Mendonça desapareceu da lista de inscritos, sem que a equipa explicasse as razões. O mesmo aconteceu com João Benta (Efapel)..Na terça-feira foram constituídos cinco novos arguidos, todos com passado ligado à WF2-FC Porto, equipa que no dia 24 de abril foi alvo de buscas e detenções, por suspeitas de doping. Dez corredores foram na altura constituídos arguidos e o diretor desportivo, Nuno Ribeiro, foi mesmo detido, tal como o adjunto, José Rodrigues..Sem a W52-FC Porto, vencedora das últimas nove edições, a Volta a Portugal será certamente diferente e não se livra da suspeição que se abateu nos últimos dias sobre o ciclismo nacional. É contra a má fama e as suspeitas de recurso a substâncias ilícitas que o pelotão vai correr. Com a inédita ascensão ao Observatório do Vila Nova (Miranda do Corvo) e a incursão em terras espanholas (Badajoz) a organização da 83.ª Volta a Portugal suavizou o traçado. Os ciclistas enfrentarão 26 contagens de montanha, menos sete do que no ano passado, e desenhou cinco etapas à medida dos sprinters, num total de 1559,7 quilómetros entre Lisboa e Vila Nova de Gaia, onde, no dia 15 de agosto, será coroado o sucessor de Amaro Antunes, o bicampeão em título, ausente devido à retirada da licença à W52-FC Porto..Com um pelotão composto por 125 ciclistas, distribuídos por 18 equipas, há oito candidatos ao triunfo final. Entre eles o uruguaio Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor), o espanhol Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) e o português Frederico Figueiredo (Glassdrive-Q8-Anicolor)..isaura.almeida@dn.pt