Mantendo o estilo antissistema, o presidente da Argentina, Javier Milei, utilizou a palavra "carajo" na mensagem que decidiu deixar escrita no livro de livro de honra da Câmara dos Deputados, durante a tomada de posse no Congresso Nacional como o novo chefe de Estado do país..O palavrão é um dos que tem uma maior carga negativa em países como Portugal e Brasil. Não é, no entanto, tão pejorativa na Argentina. No país da América Latina, estará mais próxima do "caramba" em português.."Viva la libertad, carajo". A frase assinada por Javier Milei ilustra o estilo do novo presidente da Argentina que tomou posse este fim de semana. Aliás, "carajo" surge por diversas vezes nos seus gritos de guerra..Heloisa Pezza Cintrão, professora de tradução espanhol-português no curso de letras da Universidade de São Paulo, explicou ao site G1, da Globo, que "carajo" é uma palavra associada ao órgão sexual masculino..Ainda assim, segundo a professora, algumas palavras ficam vazias no que diz respeito ao seu sentido de tantas vezes que são proferidas. "Eu duvido que eles (os argentinos) tenham perdido a noção do que 'carajo' significa, mas a palavra deixou de ter peso de obscenidade", considerou a especialista..É como se o recurso ao palavrão fosse um meio para reforçar e dar mar ênfase à mensagem que se pretende transmitir com uma única frase, que, no caso de Milei, se transformou num grito de guerra, um slogan..Para Romilda Mochiuti, professora da Unicamp, "carajo" é um marcador do discurso na língua espanhola falada na Argentina. "Os marcadores de discurso estabelecem relação que se tem com o uso dos vocábulos, e a carga semântica vai se diluindo com o tempo, o peso pejorativo negativo se perde e passa a ter só um peso enfático. Essa é a função do 'carajo': enfatizar uma expressão", afirma a professora á mesma publicação..E dá exemplos semelhantes na língua espanhola. Também como acontece com "carajo" na Argentina, em Espanha, a palavra "coño", que originalmente se refere ao órgão sexual feminino, é utilizada também como um marcador de discurso, para destacar algo.. "Que coño es eso?", que significa algo como "que coisa é essa"", exemplifica..Apesar de não ter a mesma carga negativa, as duas especialistas consideram que a expressão usada por Milei não se insere num discurso político, institucional, e que esta é a forma usada pelo novo presidente da Argentina para se aproximar do povo..Com a referida palavra Milei quer mostrar que é antissistema, que desafia o protocolo e que pertence ao povo. E é essa a imagem de marca do novo presidente do país da América Latina, que promete "uma nova era na Argentina, de paz e prosperidade, de crescimento e desenvolvimento, uma era de liberdade e progresso". Isto num país que enfrenta uma grave crise económica.."Nenhum governo recebeu uma herança pior do que a que estamos a receber", afirmou na tomada de posse..Milei prometeu, por isso, que não haverá "meias medidas" enquanto enfrenta décadas de gastos excessivos e dívidas. "Juro por Deus e pelo país... exercer com lealdade e patriotismo o cargo de presidente da nação argentina", declarou..O novo presidente argentino avisou que será necessário fazer um forte ajuste fiscal e destacou que, embora "no curto prazo a situação piore", depois se verão os frutos desses esforços. "Não há dinheiro, não há alternativa ao ajuste, não há alternativa ao choque", exclamou perante milhares de apoiantes que foram para a frente ao Congresso, agitando a bandeira azul e branca do país e repetindo o grito de guerra de Milei de "liberdade!"."Seremos capazes de trabalhar e esforçar para realizar os nossos sonhos sem o peso dos impostos sufocantes, da inflação e da tensão de um sistema monetário que está a paralisar a nossa nação."