Viva esse festival!

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"Que momento maravilhoso pra Portugal", digo, ao chegar em Lisboa, e as pessoas olham pra mim sem entender. "Maravilhoso? Não sei do que você tá falando." "Ué, tudo tão cheio, e tão rico, e com a Madonna, e o Fassbender." Ninguém aguenta mais a Madonna, me explicam. A cidade está caríssima, e o Príncipe Real foi invadido pelos franceses, e o Bairro Alto pelos visigodos, e o Chiado pelos ostrogodos, e o Adamastor pelos hunos, também conhecidos como brasileiros.

Chego em Óbidos e todos têm um sorriso enorme no rosto: "Esse ano a cidade tá mais vazia." De facto, a cidade não tá tão cheia quanto na primeira edição, onde mal se podia andar nas ruas, onde as festas duravam até às sete da manhã e a farmácia já tinha acabado com o stock de Guronsan. "Que bom, melhor assim, dormimos mais cedo", digo, como se, alguma vez na vida, eu tivesse conseguido dormir cedo em Portugal.

Continua lindo passear pela vila e entrar numa igreja que virou livraria, especialmente pra quem vive no Brasil, onde todo o dia alguma livraria vira igreja. Óbidos vai na contramão do Brasil. Consigo um pouco de tabaco com um careca que parece o Afonso Cruz. É o Afonso Cruz! Viva esse festival.

À noite, à revelia dos habitués, a cidade começa a encher. Na festa da Tinta-da-China de repente forma-se uma pequena multidão dançante. Uma loira está causando um rebuliço. Reconheço seu rosto não sei de onde. "É a Madonna?", pergunto. "Que inferno", um outro diz. "Quem foi que chamou essa mulher?" "Vocês não gostam da Madonna?", pergunto perplexo. "Gostávamos, sim. Mas ela já tá a exagerar. Tá em todos lugares ao mesmo tempo, não vai embora nunca."

Partimos pro Bons Malandros, onde a noite não termina e somos recebidos como reis. Nada mudou. Preciso dormir! Amanhã tenho palestra com o RAP. Deixa pra lá, o RAP não precisa de mim pra ser brilhante, vou apenas rir e concordar com a cabeça, a noite é uma criança, traz mais ginja. Quem vem lá? Merda, é a Madonna. Quem chamou?

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