O antigo vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, disse esta quarta-feira que a Zona Euro só deverá regressar a níveis de crescimento semelhantes aos de 2019 em 2023 e alertou para problemas na aplicação dos fundos europeus..Durante um webinar sobre política monetária, organizado pelos eurodeputados Pedro Marques e Danuta Hübner, o ex-governador do Banco de Portugal disse que estimava "uma recuperação lenta na Zona Euro".."Acho que não chegará aos 4% de crescimento este ano e não chegará aos níveis de 2019 em 2022, só em 2023", indicou, referindo que a pandemia ainda está a "avançar com força", e alertando para as estimativas de "crescimento negativo no primeiro trimestre deste ano"..Além disso, adiantou Constâncio, a execução do fundo de recuperação europeu de 750 mil milhões de euros está atrasado e o valor referente a empréstimos, de 350 mil milhões de euros, pode não ser usado pelos países.."Não conheço nenhum país que esteja disponível para usar a parte dos empréstimos, porque tem condições", adiantou, porque "isso significa que teriam de aumentar o défice orçamental de forma significativa" para ter acesso a estes fundos..Constância alertou que as nações europeias "não sabem qual será o futuro" e como será o pacto de estabilidade no futuro, apelando à Comissão Europeia que, pelo menos, clarifique que esse uso dos empréstimos "não deverá contar pelo menos para o processo de défice excessivo".."Essa decisão não foi tomada", disse, antecipando que tal não irá acontecer e "isso reduz muito o montante de estímulos ligado aos 750 mil milhões de euros"..Ainda assim, Vítor Constâncio destacou que o seu pessimismo quanto à recuperação económica "está sobretudo ligado aos aspetos da pandemia", ao "crescimento negativo" e ao "problema das vacinas" a que temos assistido..O Conselho Europeu aprovou em julho do ano passado um acordo para retoma da economia comunitária pós-crise da covid-19, num pacote total de 1,82 biliões de euros..Nesta reunião histórica, foi então aprovado um Quadro Financeiro Plurianual para 2021-2027 de 1,074 biliões de euros e um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões, com pouco mais de metade em subvenções..A presidência portuguesa do Conselho da UE, que decorre ao longo do primeiro semestre do ano, tem insistido na necessidade de os Estados-membros serem céleres na elaboração e apresentação dos respetivos planos nacionais, que têm de ser negociados com a Comissão Europeia e aprovados pelo Conselho, de modo a que os fundos do pacote "NextGenerationEU" comecem a ser desembolsados..Portugal é dos Estados-membros que tem o processo mais avançado.