Visita guiada de Paula Rego com seis ratinhos no pescoço
A nova exposição de Paula Rego na Casa das Histórias, em Cascais, só abria às 18.30 de ontem, mas a pintora decidiu fazer uma "ante-estreia" para a comunicação social, passeando-se pelos seus quadros e explicando a origem de cada um. Diga-se que os futuros visitantes perdem a melhor visita guiada que pode existir para compreender a arte de Paula Rego, ou seja, a interpretação própria da artista.
Não havendo essa possibilidade, reproduz-se mais à frente parte do que disse, sempre acompanhada pela curadora Catarina Alfaro e o autarca Carlos Carreira, que anunciou a oferta de Paula Rego para o acervo da instituição de nove novas obras.
15 minutos depois da hora marcada, Paula Rego recebe os jornalistas. Está sentada num banco que utilizou como cenário para a série inspirada no romance de Eça de Queiroz, O Primo Basílio, com uma boneca atrás. Confundem-se as duas, a boneca de cabelos em cachos dourados e um fato cor de rosa; a pintora de vestido preto com estampados e um colar onde seis ratinhos coloridos de brincadeira lhe ratavam o pescoço. Conforme nos aproximamos, vê-se a pintora imersa no seu próprio mundo, como se estivesse no estúdio londrino, desligada do que lhe está para acontecer: duas dezenas de gravadores e cinco câmaras de televisão. Há quem tente afastar os invasores, mas Paula Rego não se preocupa com a multidão. E começa a percorrer os espaços da exposição e a comentar a sua obra, olhando uns com curiosidade, outros com memórias e todos com um misto de prazer e desejo que os olhos que a acompanham gostem do seu trabalho. Isso deixa-a feliz, nota-se pelo que diz antes de percorrer a nova exposição, intitulada Old meets New: Alguém lhe pergunta se quer ficar sentada...
- Eu não, quero é ir ver os quadros. Há de haver mais se eu não morrer. Já tenho oito novos.
(na sala da série de A Relíquia]
- Esta menina que está ali é uma senhora que me manda da América muitas roupas em segunda mão, fantásticas para vestir os bonecos e que me visitou porque queria ficar num quadro. Então, disse-lhe para se sentar e pintei-a neste quadro. Ela só não sabe é que esta cena passava-se numa casa de putas.
- Aqui é o sonho que o Teodorico tem quando vai à Terra Santa. Deita-se no chão e adormece quando o diabo vem. Tem à volta chorões que trouxe da casa da minha filha pois ao pé de mim não há.
(na sala da série D. Manuel II)
- Há um quadro muito grande, da série do último rei de Portugal, D. Manuel II, que não está cá porque foi comprado por uns americanos muito ricos e eles não o mandaram. Parece impossível!
(na sala de O Primo Basílio)
- A Luísa está a ler o jornal, onde está a notícia da chegada do Primo Basílio do Brasil, de que ela gosta. Aquela é a criada, a Juliana, que lhe fez a vida negra. Neste, usei muitos fundos de parede como os que se usava naquele tempo....