"Vimos que o presidente estava armado e fomos para o balneário"

"Nunca vi nada assim", conta ao DN André Simões, capitão do AEK. Campeonato suspenso após presidente do PAOK ter entrado em campo com pistola depois de golo anulado
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Depois de anteontem o presidente do PAOK, o russo-grego Ivan Savvidis, ter entrado em campo com uma pistola à cintura após o árbitro da partida ter anulado um golo à sua equipa na receção ao AEK em jogo crucial para as contas do título, o governo grego suspendeu o campeonato. Tudo aconteceu ao minuto 90, quando o internacional cabo-verdiano Fernando Varela desbloqueou o nulo ao cabecear para o fundo das redes dos atenienses. Inicialmente, o árbitro validou o golo, mas voltou atrás depois de conferenciar com o assistente, o que motivou os protestos da formação de Salonica e a invasão de Savvidis, que entretanto foi alvo de um mandato de detenção por parte da polícia grega.

"Marquei de cabeça, o árbitro deu golo e os jogadores do AEK não reagiram. O assistente correu para o meio-campo e dois ou três minutos depois mudou a decisão, não sei porquê. Houve uma grande confusão, o árbitro já não sabia o que fazer, e entrou o presidente do PAOK em campo. Se não tivesse visto a fotografia, nem sabia se estava armado. Não sei porque entrou com a arma, aqui na Grécia é muito complicado... inacreditável", começou por contar o central Varela, de 30 anos ao DN.

Visão ligeiramente diferente tem o capitão do AEK, o médio português André Simões. "O árbitro assistente correu para o meio-campo, mas viu um jogador em posição de fora de jogo e quis saber se teve influência. O golo foi anulado, os jogadores do PAOK discutiram com o árbitro e o presidente entrou em campo. Alertaram-nos que estava armado e fomos para o balneário, tal como o árbitro, que se fechou durante duas horas. Nunca vi nada assim", revelou o centrocampista de 28 anos.

Golo validado duas horas depois

Se os jogadores recolheram ao balneário com a ideia de que o jogo continuava empatado a zero, duas horas depois souberam que o resultado estava, afinal, 1-0 para o PAOK. "O árbitro disse que validava o golo e que o AEK tinha de jogar mais cinco minutos, mas decidiram não reentrar por se sentirem em perigo", disse Fernando Varela, que em Portugal representou Estoril, Rio Maior, Trofense e Feirense.

Do outro lado, a decisão caiu que nem uma bomba, até porque foi comunicada aos dirigentes e não aos jogadores. "Não conseguimos perceber o porquê. Ficámos a aquecer para não esfriar, eu e o Vieirinha [capitão do PAOK] batemos à porta do balneário do árbitro para retomarmos o jogo, mas passaram-se duas horas e ninguém abria a porta. Depois comunicou ao clube que o golo tinha sido validado, e o AEK não quis que entrássemos em campo. Nunca tinha visto algo igual. Assim é normal que o futebol grego tenha todas estas polémicas, com um presidente a incitar à violência", disparou André Simões, indignado pela suspensão do campeonato. "Estamos a pagar por erros dos outros. O erro foi do PAOK e estamos a pagar todos. Estamos na frente com mérito e querem prejudicar-nos", acrescentou o antigo jogador de Padroense, Santa Clara e Moreirense.

Varela defende presidente

No clube desde o verão de 2016, depois de ter estado quatro anos na Roménia ao serviço de Vaslui e Steaua Bucareste, Fernando Varela diz que compreende a indignação do presidente do seu clube. "Eu de certa forma até o compreendo, porque é uma pessoa que está há tanto tempo no PAOK, que investiu muito dinheiro... e todos os anos acontece sempre alguma coisa para impedir o título", frisou, recordando a derrota na secretaria de há duas semanas frente ao Olympiakos. "O Olympiakos vinha para não jogar, o AEK não queria jogar mais. Tiram sempre pontos. Aqui na Grécia qualquer coisa dá direito a castigo, a perda de pontos e jogos à porta fechada. Com o Olympiakos tiraram-nos e deram-nos os pontos", lembrou o defesa natural de Cascais mas internacional por Cabo Verde.

"O presidente é uma pessoa normal e tranquila, com a qual se consegue falar. Apoia muito os jogadores e, quando entrou no relvado, era para tentar que saíssemos. Mas nós dissemos que queríamos continuar a jogar, lutar pela vitória e ganhar o campeonato. Somos a melhor equipa, mas contra as estratégias do AEK e o Olympiakos fica difícil", rematou.

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