Violência doméstica na Casa Branca : a nova dor de cabeça do general Kelly
Quando em finais de julho Donald Trump escolheu John Kelly para chefe de gabinete, todos apontavam o general, até então secretário para a Segurança Interna, como o único capaz de pôr ordem na Casa Branca. Passados pouco mais de seis meses, o militar na reserva parece estar de partida, depois de ter vindo defender o assistente Rob Porter, o primeiro de dois funcionários da Casa Branca a demitirem-se nos últimos dias após terem sido acusados de violência doméstica.
Na sexta-feira, o The New York Times noticiava que Kelly, antigo marine e general de quatro estrelas, terá confidenciado a altos responsáveis querer demitir-se, mas ainda não terá comunicado a intenção ao presidente. Ontem, na ABC, a conselheira da Casa Branca Kellyanne Conway garantiu que Trump mantém "confiança total" em Kelly, negando que esteja à procura de substitutos para o chefe de gabinete.
Durante a semana, a NBC apontara Mick Mulvaney, antigo congressista da Carolina do Sul e atual diretor do Gabinete de Gestão e Orçamento da Casa Branca, como potencial novo chefe de gabinete. Aos 50 anos, o conservador fiscal ganhou destaque nas negociações para o financiamento do governo. Outros nomes em cima da mesa, segundo os media americanos, são o do conselheiro económico do presidente, Gary D. Cohn, o do líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Kevin McCarty, ou o de Thomas J. Barrack Jr., empresário próximo de Trump.
Na quarta-feira, Rob Porter demitiu-se depois de ter sido acusado pelas duas ex-mulheres de violência física e moral. Em entrevista à CNN, ambas relataram anos de abusos por parte do ex-marido, factos que dizem ter comunicado ao FBI quando este investigou Porter. Este rejeita as acusações. Kelly saiu em defesa do assistente, afirmando tratar-se de um homem com "verdadeira integridade e honra". Uma posição em que muitos viram falta de sensibilidade. Mas que se tornaria ainda mais insustentável quando veio a público que Kelly sabia há meses que Porter não conseguira um acesso de segurança mais elevado devido a estas alegações. Segundo o The Washington Post, o chefe de gabinete terá ainda pedido a dois responsáveis da Casa Branca para divulgarem uma versão diferente dos acontecimentos à imprensa.
Apesar de os media terem noticiado que Trump está descontente com Kelly por este atrair atenções indesejáveis - além do alegado encobrimento de Porter, afirmou há dias que alguns imigrantes são "demasiado preguiçosos" para se legalizarem -, o presidente tem dito manter a confiança no homem que escolheu para substituir Reince Priebus quando este foi acusado de andar a passar informações aos media. No Twitter, o presidente - ele próprio acusado por várias mulheres de abusos sexuais - lamentou que haja vidas destruídas com base em "meras alegações". "Umas são verdadeiras, outras são falsas. Umas são velhas, outras são novas. Não há reparação para alguém falsamente acusado - a sua vida e carreira estão acabadas. Já não há direito a um devido processo legal?", escreveu.
Depois de Porter, no sábado foi a vez de David Sorensen, responsável por escrever discursos para a Casa Branca, se demitir. A sua ex-mulher, Jessica Corbett, acusou-o de abusos físicos e emocionais durante os dois anos e meio de casamento. Sorensen negou as acusações, que a mulher também transmitiu ao FBI durante a investigação ao seu passado, e garantiu que era ele o agredido.
Numa ronda pelos programa da manhã das televisões americanas, Kellyanne Conway esteve também no State of the Union, da CNN, onde defendeu que a América é "um país de leis" e que todos devem ter direito a ser julgados pela justiça antes de serem acusados em praça pública. Quando às acusações de abusos sexuais contra Trump, a conselheira garantiu que o presidente já ajudou muitas mulheres e questionou: "Porque é que eu e outras mulheres trabalhariam para ele?"
Uma dessas mulheres é Hope Hicks. A diretora de comunicação da Casa Branca está no centro das notícias por alegadamente estar envolvida romanticamente com Rob Porter. Questionada se estava preocupada com o facto de Hicks, de 29 anos, poder ser agredida por Porter, de 40, como uma das ex-mulheres deste vaticinou ir acontecer, Conway garantiu que a jovem tem "bons instintos" e "muito apoio à sua volta".