Vinham de longe, e eram muitos. Centenas, talvez milhares. Ao Cais do Sodré afluíam carvoeiros, moços de fretes, pescadores artesanais, espanhóis de Ourense e doutras terras galegas, homens de Alcochete, que em Lisboa vendiam as ervas do campo cheirosas que terão dado o nome à Rua do Alecrim. Além destes, gente da ribeira-Tejo, vinda de uma vasta zona, muito para lá de Vila Franca. Eram eles que carregavam e descarregavam os navios, as embarcações, os vagões possantes, os carros de cavalos. De tudo faziam, ora como estivadores, ora como mestres de embarcações e faluas, ora, e sobretudo, de tudo quanto fosse preciso. Usavam fatos de macaco, roupas de trabalho, boné na cabeça, chinelos de trança ou alpergatas, quando não descalços. Por ali andavam também outros homens, armadores, agentes comerciais, empreiteiros, subempreiteiros, que contratavam ao dia, por vezes à hora. Quem trabalhasse uma hora, por falta de mais serviço, só recebia uma hora, somente isso. Se chovesse o dia todo, se o Tejo estivesse mau, não haveria trabalho - nem salário..Pela baixa da cidade, nas margens do rio, vagueava uma multidão de braços expectantes, na ânsia da jorna. Andavam por Santos, pelo Terreiro do Trigo, pelo Cais do Sodré, pelo Chafariz de Dentro, à espera, sempre à espera. Por vezes, muitas vezes, havia briga e distúrbios, confrontos violentos entre os que ali aguardavam há horas, há dias, e outros que apenas lá apareciam, vindos de mais longe ainda, e que chegavam a Lisboa por causa das sortes da tropa ou outra razão qualquer..Pela madrugada, faziam-se os contos. Para o serviço dos paquetes de mala e passageiros usava-se o passeio fronteiro à Agência Orey Antunes, ou o da Hora Legal; para outros trabalhos, os passeios dos escritórios da Agência Marítima de Ocidente ou da Agência Pinto Basto. Ali estavam os homens, centenas, milhares, à espera, à espreita, naquele jogo do azar sorte, do fortuito acaso, hora feliz ou sina malvada. Os que não eram contratados não regressavam logo a casa, a suma vergonha das mãos a abanar. Sentavam-se no chão, deitavam-se pelos passeios, iam para os bares, para os botequins, gozavam a sombra de árvores e quiosques. Tantos séculos passados, os mesmos ventres ao sol do cronista, prova provada de que a miséria não muda, nos seus gestos e hábitos, talvez e sobretudo no seu enraizamento profundo, indelével, num destino colectivo que chamamos Portugal..Até ao cair da noite, aguardavam ali, como cães, o apito do patrão, o chamamento salvífico. Horas a fio, dias, meses, vidas inteiras. No epicentro de tudo, o British Bar, onde se reuniam os capitães e os mestres dos navios, os caixeiros das agências de navegação, o encarregado estivador, que, recebido o contrato, se dirigia à associação a pedir pessoal e o fiscal do conto..Pelas ruas, onde quer que fosse, os homens improvisavam mesas, comiam ao ar livre a bucha trazida de casa. Eram poucas as latrinas, ficavam longe, em locais inacessíveis, sobretudo para os estivadores que, porque o trabalho não podia parar, se aliviavam nas entreparas do porão, em cima da carga, ou, nas descargas de carvão, "janavam" na pá e deitavam para o balde. Não havia duches nem lavatórios e, no final do dia, no regresso a casa, era frequente os estivadores verem recusada a entrada nos transportes públicos, tal o cheiro que consigo levavam, da farinha de peixe ou de cargas podres..Em 1887, D. Luís lançara a primeira pedra das obras do porto de Lisboa, projecto que remontava, pelo menos, aos tempos d´el-rei D. João V. Na toponímia das ruas e dos lugares, a memória do rio, sempre do rio: Cais da Areia, Cais dos.Soldados, Cais do Tojo, Rua dos Remolares, Terreiro do Trigo, Travessa da Galé, Travessa da Praia, Travessa das Galeotas, Travessa dos Escaleres, Travessa do Cais da Alfândega Velha. O Arco das Portas do Mar, talvez o mais belo nome de uma artéria lisboeta, o Cais da Lingueta, o Beco do Penabuquel, vocábulo de origem árabe, e depois os boqueirões, virados ao rio, como o da Ponta da Lama ou o da Praia da Galé. E o Cais do Sodré, cuja origem divide olissipógrafo: para uns, o nome viria da família Sodré Pereira Tibau, da qual dois membros tinham prédios na zona; para outros, ele deriva de um inglês chegado a Lisboa nos tempos de Afonso V..Do que era a vida na estiva conta-nos José Nascimento Alves num livro saído há anos, Centenário dos Estivadores. Notas e memórias de um estivador, editado pelo respectivo sindicato em 1996. No críptico linguajar dos marítimos, diz-nos que "uns homens trabalhavam nas descargas de carvão, arreados por vários processos, à talha ou com o pau de ala gaio, gruas manuais, hidráulica e a vapor, processos de vai e vem, tal como nos salvamentos de pessoas." Quem abraçasse o ofício, tinha quase certa uma doença respiratória - gripes, bronquites, pneumonias, pleurites, tuberculoses -, tal era a poeira que circulava no ar, tantas vezes vinda de substâncias tóxicas ou malignas..A primeira associação de classe nasceu em 1896 e só então começou a existir um mínimo de protecção para os trabalhadores da estiva, homens que, na sua esmagadora maioria, fugiam à pobreza das terras do demo do interior do país, gente da Pampilhosa da Serra, de Arganil e de Góis, da Lousã, de Tondela, ou da Beira Baixa, Mação, Vila de Rei. Gente que trabalhara no campo e que, terminado o serviço militar, decidia rumar a Lisboa para aí arrumar a vida. Outros dividiam-se entre cidade/campo, tentando conciliar o amanho das terras com a sazonalidade da estiva. Alguns começavam logo nesse ofício precário, mas a maioria tinha trabalhado antes como vendedores de carvão, fabricantes de bolas para os fogareiros, moços de balcão nas tabernas, marçanos das mercearias, ajudantes de talhantes. Todos chegavam sozinhos, sem a mulher e os filhos, uns porque eram solteiros, outros porque não podiam custear a hospedagem da família. Por cá, quando não dormiam nas ruas, ou debaixo de pontes, alugavam quartos e enxovias, partes de casa, ou alojavam-se em grupo nas "casas da malta" dos bairros pobres da cidade. Tempos duros esses, como nunca os vimos, ou assim julgamos..No Chafariz de Dentro, perto de onde agora escrevo, o ponto de encontro era no "Gaiteiro", onde convergiam encarregados e empreiteiros para combinar os serviços e o recrutamento. Amiúde estalavam zaragatas, cenas de facada, por contas mal feitas, mulheres ou vinho, invejas antigas. Lembra-se José do Nascimento Alves de ali ter assistido à morte do "Braz", anavalhado, e do patois próprio da moina, uma mistura de sons ditos de trás para a frente, em que "badoncabré" queria dizer "cabrão" e "ófiabé" significava "bófia". "Oncabré, adani, uncani, ófiabi" era um sinal de aviso: "há bronca, não façam nada, nunca, há bófia". Nos tempos mais calmos, era no "Gaiteiro" que os estivadores namoriscavam as varinas de Alfama e as costureirinhas da Sé, que se arranjavam os casamentos e os baptizados de filhos criados ao deus-dará. Aos domingos havia fados no Beco do Azinhal, cantados por malta da estiva como o Virgílio Ferreira ou o Norberto Alegria, pelo Azevedo da Bica, pelo tio Augusto de Cacilhas. Quando não se trabalhava, o poiso quase certo era o "Alfaia" ou o "Zé Cartaxeiro" e não foram poucas as vezes que a palmeira que ainda hoje está no Largo de São Miguel foi disputada por bêbados ou serviu de ombro amigo às suas confidências. Um deles tinha uma alcunha sangrenta, o "Assassino", dada por brincadeira, pois era um paz d"alma. Mas bebia muito, parece, e dormiu durante anos, por favor, no batelão "Massamá", da Colonial, até morrer atropelado em Xabregas..É coisa estranha o trabalho, esse da estiva ou qualquer outro. Há quem o recuse, pelo menos no ritmo frenético com que agora o fazemos, a era do animal laborans, como lhe chamou Hannah Arendt. A lentidão e a preguiça, louvadas por Paul Lafargue, serão, talvez, uma forma de resistência à modernidade, sustenta Laurent Vidal em Les hommes lents, uma análise da indolência do século XV aos nossos dias (Flammarion, 2020, reed. 2022). Foi no final da Idade Média, e depois com a Reforma, que a ociosidade começou a ser considerada um pecado mortal, como no tratado das virtudes e dos vícios do dominicano Guillaume Peyraud (Summa de Virtutibus et victis, de 1236-1239). Num desenho de Bruegel, o Velho, de 1557, depois gravado por Pieter van der Heyden, intitulado Desidia ("Preguiça") e pertencente à série "Os Sete Pecados Mortais", vemos uma mulher espojada sobre o ventre de um burro, encimando a legenda: "A preguiça torna o homem impotente e seca os nervos até que ele não sirva para mais nada". De Shakespeare a Cervantes, a literatura acolheria o "encantamento da velocidade" que marcou os alvores da era moderna e, nas baladas populares inglesas do século XVII, abundaram as referências depreciativas aos "homens lentos de Londres" (slow men of London), a arraia-miúda dos jovens artesãos de mil ofícios, sem ocupação fixa, que prefiguram e antecipam o "precariado" dos nossos dias. Daniel Defoe falou da indolência - e da insolência - das criadas de servir de Inglaterra num célebre panfleto que lhes dedicou em 1729 e até Locke se descreveu a si próprio como um "slow man of London", devido ao que dizia ser a sua ingenuidade nas coisas e nos negócios do amor. Em França, a expressão "indolência" vulgarizou-se por volta de 1590, a partir do latim indolentia, que à letra significa "ausência de dor" ou "insensibilidade", uma característica que ainda hoje associamos aos pobres e aos marginais, àqueles que vivem nas ruas, e que por isso julgamos terem maior resistência à fome e ao frio (leiam o Diário de um Sem-Abrigo, do malogrado Jorge Costa: pior do que a fome e o frio, é o medo, o indizível e terrível medo de viver na rua)..A imagem do mandrião abrutalhado, flácido, turvado pelo álcool, foi frequentemente exibida como exemplo negativo para os que aspiravam a uma vida laboriosa e honrada - honrada pelo trabalho -, familiar e burguesa. A ética protestante e a industrialização fariam o resto, mas a ideia de que as camadas mais baixas da sociedade são, por natureza, mais dadas ao ócio e à preguiça ainda hoje se mantém, mesmo que dissimulada pelo patois tecnocrático da "falta de qualificações" e da "ineptidão funcional", sulco distintivo entre os bem-sucedidos e os zé-ninguéns, "les gens qui réussisent et les gens qui ne sont rien", no cruel maniqueísmo de um discurso de Macron em 2017, na inauguração da maior "incubadora" de start-ups do mundo (por muito que tentem negar, o Chat GPT e a inteligência artificial irão dizimar milhões de empregos, até os de mais intelecto, sem que do mesmo passo outros se criem, em quantidade e dignidade idênticas)..Na visão dos calvinistas do norte, os povos meridionais eram um acabado exemplo dos infortúnios da preguiça, tratada com "vício" ou "doença", estereótipo que os próprios sulistas se encarregaram de assimilar, e gostosamente festejar, seja através da celebração italiana do dolce far niente, seja da sacralização espanhola da hora da siesta. A associação do sul à indolência é, contudo, mais antiga e, no que às Américas diz respeito, remonta a Cristóvão Colombo, o qual se espantou pelo facto de, devido à abundância da terra, os índios não precisarem de trabalhar. Depois do clássico de Sérgio Buarque de Hollanda, é vasta a literatura sobre a redescoberta ao trópico do antigo paraíso bíblico, de onde Deus expulsara Adão e Eva, obrigando-os a trabalhar (Gen., 3,19: "só à custa de muito suor / conseguirás arranjar o necessário para comer"). Nas gravuras da época, vemos os índios, deitados em espreguiçadeiras, no meio selvas frondosas, recebendo os europeus, que os descreveram como "naturalmente preguiçosos e viciosos" (Gonzalo Oviedo y Valdés, 1526, ou Garcilaso de la Vega na História da conquista da Florida), corrompidos por "três vícios: sensualidade, glutonice e preguiça" (Juan Palafox y Mendoza, 1650). Verdade ou mito, foi essa ideia de indolência dos índios que explicou, em parte, a importação de escravos vindos das Áfricas, a quem também seria aplicado o ferrete da preguiça atávica, inscrita na pele e nos genes..Na série "Dorminhocos", feita pelo fotógrafo Pierre Verger na Bahia, nos anos 1940 e 50, vemos negros, descendentes de escravos, a dormir ao sol, refastelados debaixo de árvores, nos bancos de jardins, imagens que não são muito diferentes daquelas que Lewis Wickes Hine captou dos estivadores do porto de Nova Iorque (Dock Workers Enjoying Siesta, c. 1922), ou das que poderíamos decerto encontrar no Cais do Sodré da mesma época..Simplesmente, não os vimos. A mais insidiosa forma de tratarmos a marginalidade e a pobreza não é o desprezo, mas a invisibilidade. O desprezo ainda supõe que consideremos o outro, para o excluir, enquanto o não-ver, o simplesmente não ver, é e permite a sua anulação absoluta. Do mesmíssimo modo com que tratámos os estivadores de outrora, teimamos em não ver os migrantes de hoje, os pobres de agora. Ao fim de 100 anos, as condições são as mesmas - salários de miséria, uns e outros vindos de longe, deixando a família atrás, vivendo apinhados nas "casas da malta" dos velhos bairros - ou hoje talvez piores, já que os migrantes não têm sequer o vínculo e os direitos da cidadania nem o amparo de um sindicato. Teimamos em não os ver, quando eles estão em toda a parte, à vista de todos, no coração de Lisboa, nas arcadas do Dona Maria, acampados no Martim Moniz pela Almirante Reis fora, nas docas, junto às discotecas..Na maioria pobres, não necessariamente migrantes. Esses, paquistaneses, bengalis, etc., estão no centro de Santarém, nas praças de Beja, vindos de longe, além-fronteira, para o amanho dos campos e a apanha da fruta, fazendo o trabalho que os nossos não querem, pois já lá nem vivem ou ganham melhor. Não os vemos, do mesmo como na pandemia só vimos os médicos e os professores (a quem demos prioridade nas vacinas, em detrimentos dos idosos de maior risco, mortos como tordos, ponto que merece ser lembrado ao falar da eutanásia, seja qual for a opinião que dela tivermos), mas não as mulheres das limpezas ou as caixeiras dos supermercados, também elas "heroínas da Covid", mas jamais tratadas como tal. Insistimos que nós, "portugueses de bem", não somos racistas, vivemos no conforto dessa ilusão e mentira, sem reparar sequer que nas limpezas dos escritórios e dos shoppings é esmagadora a maioria das mulheres negras, como esmagadores são os miúdos negros atrás dos balcões dos fast food e ocupações similares. Ninguém é moralmente perfeito, e uma vida toda pautada por critérios éticos seria impossível e sufocante. Em todo o caso, devemos assumir o óbvio das nossa fraquezas e gostos: há escravos em Odemira porque apreciamos frutos vermelhos, muito na moda e saudáveis, e há mortos carbonizados na Mouraria porque gostamos dos serviços e dos confortos que prestam - lojas de conveniência 24h, transporte door-to-door em Uber ou Bolt (e que bom é eles irem caladinhos ao volante!), refeições quentinhas e à la carte, trazidas ao domicílio por uma ninharia. Por isso, estranha-se a estranheza com que agora falam dos migrantes mortos na Mouraria. Só agora é que notaram? Só agora repararam que a Baixa está pejada de lojas de bugigangas que mais não são do que entrepostos de trabalho escravo?.Pior ainda é usá-los como arma de arremesso político, como agora se está fazendo: a esquerda, até para alfinetar a direita, abre-se sempre a mais e mais migrantes, em nome do "humanismo", esquecendo-se que é isso que faz a superabundância de mão-de-obra, perpetuando a miséria e os salários baixos, favorecendo, no fundo, os patrões e os exploradores (que seja a esquerda a promover tudo isso, por pura cegueira "antifascista", não deixa de ser caricato). A direita, de seu lado, ou alimenta o pior de nós, o ódio ao outro e diferente, ou vive na utopia das quotas e dos contingentes, para delícia das máfias do tráfico, sendo fácil impor quotas, por lei ou belo decreto, difícil é controlá-las, fiscalizá-las no terreno. Falou-se também agora na necessidade de contratos de trabalho (e quem os fiscalizará?), quando o problema não é falta de trabalho, mas de habitação. Num país com 6% de desemprego, os migrantes não vêm roubar emprego a ninguém, vêm fazer os trabalhos mais mal pagos e piores, aqueles que já nem os nossos negros querem. Depois, com tanta falta de casas, não admira que durmam nas ruas ou em catres, em condições que, uma vez mais, não conhecemos, nem sequer imaginamos - pois estão cobertas, como sempre, pelo diáfano e cruel manto da invisibilidade. Claudica muito a imprensa, os meios da comunicação, que só se agitam e movem quando há fogo e gritaria à Mouraria, escândalo que dê manchete: reportagens profundas sobre o viver e o sentir dos imigrantes, feitas com vagar e tempo, nem vê-las (tirando, como sempre, as honrosas mas raras excepções)..Seríamos todos mais crescidos, como pessoas e sociedade, se percebêssemos as escolhas que fazemos, explícita ou implicitamente: durante a pandemia, para termos as escolas abertas, sacrificámos milhares de velhotes, com a ironia tristíssima de estarem agora os miúdos sem aulas - e há mais tempo -, por conta de um surto grevista, prova de força e de vida de antigos comparsas de "geringonça", nesse tempo bem calados; na imigração, preferimos perder vidas às mãos do tráfico, ou nos fogos da Mouraria, a termos de abdicar do serviço da mão-de-obra escrava, a termos de pagar condições dignas de alojamento e trabalho ou os custos de um eficiente controlo de fronteiras (à conta do homicídio de um migrante, destruiu-se um serviço essencial à protecção dos estrangeiros). É isso, somos imperfeitos, moral e humanamente, individual e colectivamente imperfeitos, como pessoas e como sociedade, ou, se quisermos, como modelo político e social apoiado em excesso na materialidade da produção e consumo. Em todo o caso, será grande avanço se, ao menos, tivermos consciência disso. A consciência, no fundo, de que a recusa em olhar o outro é negação de nós próprios.