"Vim cá todos os dias. Ontem temi o pior. Tivemos sorte, não ardeu"
Francisco e Maria de Lurdes Carvalho chegaram a casa logo de manha, sorrisos largos por ver que as chamas não tocaram na habitação, a primeira à entrada de Cabanões, no concelho da Lousã, onde as chamas lavravam desde a madrugada de domingo. Eles foram evacuados pela GNR, eram 04:00.
"Vim cá todos os dias. Ontem temi o pior. Tivemos sorte, não ardeu, mas eu também tinha isto tudo limpo à volta". Como as casas ficam numa encosta, tudo o resto parece um precipício. "Tem que ser. Hoje vim logo, ver como estava isto e cuidar dos animais. Não se podem deixar sem comer".
Agora é cuidar do que ficou, até porque não tarde está-se na apanha da azeitona e as oliveiras carregadas prometem. A chuva, a voltar, porque durante o dia não caiu pinga, vai sossegar os corações e aumentar a colheita.
Os bombeiros fazem o rescaldo de um ou outro foco de incêndio. E muitos dos operacionais que vimos durante a noite na Serra da Lousã estiveram mais a vigiar do que a combater as chamas, tão grandes e fortes eram, também devido a alguma dificuldade em concentrar e harmonizar esforços. E os bombeiros vieram de todo lado, homens e mulheres que desconhecem os terrenos por onde avançam.
Passam na aldeia técnicas da Segurança Social que perguntam se estão bem, se há problemas, entregam mantimentos e água a quem precisa. A aldeia tem 20 casas, apenas 5 habitadas permanentemente, nomeadamente 3 estrangeiros, que se dizia serem alemães mas afinal são canadianos.
Francisco Carvalho tem 68 anos, quase tantos como a mulher, que os faz na sexta-feira. Viveu ali e comprou casa há mais de 20 anos. "Se fosse hoje não enterrava aqui o meu dinheiro. Estamos um bocado abandonados. Um bocadinho de estrada alcatroada, com a entrada e saída pelo mesmo lado, mas está prevista outra saída. Está no plano, mas nunca foi feita."
*em Cabanões