Advogados de Vieira e do filho dizem que arguidos estão tranquilos
Luís Filipe Vieira, José António Santos, Tiago Vieira e Bruno Macedo, os quatro arguidos no processo Operação Cartão Vermelho, estão no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), para serem ouvidos pelo juiz Carlos Alexandre.
Os arguidos saíram às 14.14 horas do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, onde pernoitaram, em direção ao tribunal de instrução criminal, numa operação marcada por um forte aparato policial.
Antes deste primeiro interrogatório, os arguidos vão ficar a conhecer as acusações de que são alvo - já enumeradas no comunicado do DCIAP. Em causa estão crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento.
Prevê-se que este interrogatório se prolongue por várias horas, ou seja, no caso de todos os arguidos se disponibilizarem para responder ao juiz, é natural que ainda não se conheçam esta quinta-feira as eventuais medidas de coação, com as audições a continuarem amanhã.
Vieira, presidente do Benfica, passou a noite nas instalações da PJ de Moscavide devido a suspeitas de "negócios e financiamentos de valor total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades", explicou o DCIAP no comunicado de ontem.
A detenção de Vieira foi justificada com o perigo de fuga e defesa da prova, numa operação em que foram igualmente detidos o filho do presidente do Benfica, Tiago Vieira, o empresário José António dos Santos (conhecido como rei dos frangos) e o agente desportivo Bruno Macedo (que esteve envolvido no negócio da ida de Jorge Jesus para o Flamengo e seu regresso ao Benfica).
Os advogados Magalhães e Silva e Tiago Rodrigues Bastos, que representam Luís Filipe Vieira e o filho Tiago Vieira, respetivamente, asseguraram hoje que os arguidos se encontram tranquilos, à entrada para o Tribunal Central de Instrução Criminal.
"Só agora é que vou entrar no tribunal, não sei o timing das coisas. Ontem [quarta-feira] falámos, [Luís Filipe Vieira] está tranquilo e sereno", frisou Magalhães e Silva, na chegada às instalações, já depois dos arguidos, vindos do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, onde pernoitaram, numa operação marcada por um forte aparato policial.
Pouco depois, assomou o representante de Tiago Vieira, Tiago Rodrigues Bastos, que reforçou que o seu cliente "está calmo e tranquilo" e que irá "ver o processo", não prestando mais declarações, tal como a advogada Paula Lourenço, representante do arguido Bruno Macedo, e outro causídico, que optou por não se identificar à imprensa.
Numa ação que decorreu em três zonas do país - Lisboa, Torres Vedras e Braga -, os mais de 60 inspetores da Autoridade Tributária e Aduaneira acompanhados por magistrados do Ministério Público, juízes de instrução criminal e agentes da PSP cumpriram 45 mandados de busca, terminando a operação com as quatro detenções.
No documento do DCIAP, destaca-se um número: 100 milhões. É esta a verba alegadamente movimentada em negócios e investimentos que, de acordo com a investigação, terão "acarretado grande prejuízo para Estado e algumas sociedades". No comunicado é ainda explicada a razão das detenções: foram efetuadas "atendendo aos indícios já recolhidos, com vista a acautelar a prova, evitar ausências de arguidos e prevenir a consumação de atuações suspeitas em curso". Ou seja, existiria a suspeita de que os agora arguidos - ou algum deles - poderiam deixar o país.
Entre os alvos de buscas esteve ainda a C2 Capital Partners, que tem como sócio o ex-dirigente do Benfica Nuno Gaioso Ribeiro. A empresa confirmou a ação, garantindo ter colaborado "voluntária e livremente nas diligências em curso, tanto mais que nem a sociedade nem qualquer dos seus administradores foram constituídos arguidos ou têm qualquer outra posição processual". A informação solicitada à C2 Capital Partners tê-lo-á sido na sua qualidade "de sociedade gestora do Fundo de Investimento Alternativo Especializado Promoção e Turismo". Em nota divulgada, a capital de risco vincou que "não houve lugar a qualquer outra diligência processual".
As buscas de ontem foram o culminar de investigações que se iniciaram há sete anos e que alegadamente envolvem negócios em que o Benfica poderá ter sido prejudicado por decisões de Vieira relacionadas com a venda de 25% do capital social da Benfica SAD. Ou burla qualificada por créditos concedidos pelo Novo Banco ao grupo empresarial do líder do clube da Luz.
A investigação conduzida pelo procurador Rosário Teixeira (que liderou a Operação Marquês) foca-se, assim, não só nas empresas de Vieira mas também em eventuais implicações para o clube.