Vídeo de gato a ser queimado vivo está a ser investigado pela GNR

A população garante que "nunca morreu nenhum gato" e que o último que foi sujeito a esta prática "está bem".
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A população de Mourão, no concelho de Vila Flor, Bragança, está a braços com a Justiça devido a uma tradição de São João denominada "Queima do Gato" que envolve um animal vivo. O vídeo do gato a ser queimado vivo, está a gerar indignação nas redes sociais.

A GNR confirmou à Lusa que iniciou diligências para identificar os autores no âmbito de um inquérito aberto no Tribunal de Vila Flor depois de várias denúncias. Também a associação de defesa dos animais Grupo Gato Urbanos anunciou hoje que vai avançar com uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Ação Penal, constituindo-se como assistente do processo, "com o objetivo de levar à justiça os responsáveis e cúmplices e para que esta barbara e vergonhosa prática não se repita mais".

O ritual foi divulgado nas redes sociais onde se gerou uma onda de indignação que já fez eco na aldeia, onde a população garante que "nunca morreu nenhum gato" e que o último que foi sujeito a esta prática "está bem".

O Movimento Internacional em Defesa dos Animais (MIDAS), colocou o vídeo na sua página do Facebook, apelando ao fim de uma prática que, alegadamente, é um costume praticado nas festas daquela região há vários anos. A organização não-governamental ANIMAL disse também na sua página do Facebook já ter avançado com uma queixa junto das autoridades. Um excerto do vídeo continua disponível na internet. Alertamos que pode ferir suscetibilidades.

A "tradição" chegou ao conhecimento público através de um vídeo colocado nas redes sociais com a duração de cerca de cinco minutos que, segundo a descrição do Grupo Gatos Urbanos "mostra um gato colocado dentro de um recipiente de barro e levantado a alguns metros de altura, num poste".

"O poste vai sendo queimado e à medida que as chamas envolvem o recipiente com o animal lá dentro ouvem-se os gritos lancinantes do animal em sofrimento atroz. Quando o poste arde, projeta-se no chão, sendo que o animal cai de uma altura superior de três metros, fechado no recipiente a arder, recipiente esse que se estilhaça no chão", descreve.

Nesse momento "vê-se o gato em chamas a "gritar" agonizantemente enquanto a população ri, esbraceja e se diverte com o suplício do animal que corre em círculos, tentando alívio e fuga, desorientado em agonia extrema", continua aquela organização, indicando, que o crime foi denunciado pela Associação Midas.

A associação Grupo Gatos Urbanos informou que vai requerer "informações sobre o estado atual do animal alvo de sacrifício/maus tratos e que sejam efetuadas todas as diligências necessárias para a identificação dos promotores, autores e participantes deste crime".

"Nunca morreu nenhum gato e este está bem, a GNR já o veio ver", afirmou à Lusa Aida Alves, habitantes de Mourão que encara como "ridícula" a situação que está a gerar-se em torno do caso.

Com 80 anos, Aida Alves garantiu que desde sempre que existe esta tradição associada às festas de São João e que "há três ou quatro anos que é (usado) o mesmo gato".

Segundo contou à Lusa é um habitante da aldeia que tem gatos que oferece o animal para este ritual.

Aida Alves reconheceu que nesta festa o animal "queimou uma bocadinho o pelo", acrescentando que "a dona foi buscá-lo, tratou-o e está bem".

"Está aí bem bonito, podem vir ver. Já cá veio a Guarda e já o viu", declarou.

Confrontada com a lei que pune os maus tratos e sofrimento infligido aos animais, Aida Alves responde com uma pergunta: "E não há lei para os cães abandonados que deixem por aí?".

As festas de São João são organizadas pelos poucos mais novos que mantém laços com esta aldeia de Trás-os-Montes "onde existem apenas meia dúzia de velhos", como disse à Lusa Aida, que teme que agora se acabe com a tradição e fiquem "cada vez mais abandonados".

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